O Brasil assumiu nesta sexta-feira (1º), pela primeira vez, a presidência temporária do G20, o grupo que reúne os países com as maiores economias do mundo mais a União Europeia e a União Africana. Com mandato de um ano, o governo brasileiro deve propor reformas das instituições internacionais.
Brasília vai organizar mais de cem reuniões de grupos de trabalho, nos formatos presencial e virtual, e cerca de 20 reuniões ministeriais. O principal evento será a 19ª Cúpula de chefes de Estado, em novembro do ano que vem, que será realizada no Rio de Janeiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na quinta (30) que a presidência brasileira do G20 vai focar três discussões principais, sendo uma delas a possibilidade de reforma do sistema de governança global. “Queremos maior participação dos países emergentes nas decisões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional”, disse ele, segundo o site da Agência Gov.
Brasília tenta angariar apoio às reformas. Em agosto, por exemplo, logrou que Pequim aceitasse incluir em uma declaração do Brics a demanda de expansão do Conselho de Segurança da ONU, que atualmente tem cinco países permanentes e com poder de veto. A demanda sempre foi alçada a prioridade pelos governos Lula, desde os dois primeiros mandatos.
Outros temas que receberão atenção durante o mandato brasileiro na presidência do G20 são a desigualdade, em particular da dívida dos países mais pobres do mundo, e a transição energética.
“Não é possível que as instituições de Bretton Woods, Banco Mundial, FMI [Fundo Monetário Internacional], e tantas outras instituições financeiras continuem funcionando como se nada tivesse acontecendo no mundo, como se tivesse tudo resolvido”, afirmou Lula. “A insustentável dívida externa dos países mais pobres precisa ser equacionada. A Organização Mundial do Comércio tem de ser revitalizada.”
Os primeiros eventos do G20 durante a presidência do Brasil vão acontecer já neste mês, em Brasília, no Palácio do Itamaraty. Nos dias 11 e 12, vão se reunir os integrantes do chamado grupo Sherpa, que são os representantes pessoais dos próprios chefes de Estado ou de governo dos países membros.
No caso do Brasil, o representante será o embaixador Maurício Lyrio, que é secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores.
No dia 13, acontecerá um encontro do presidente Lula com os representantes das duas trilhas (tanto a Sherpa como do núcleo financeiro). Os dois dias subsequentes serão destinados para o encontro dos núcleos financeiros do G20. A representante brasileira é a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito.
Na presidência do G20, o Brasil vai propor um esforço conjunto para alavancar uma aliança global contra a fome, de acordo com o governo. Também promete usar suas “credenciais” para oferecer propostas concretas em busca de soluções para o mundo.
A principal proposta é que as economias avançadas perdoem os débitos dos países mais pobres em troca de investimentos e de alocação de recursos para lidar com questões climáticas e de insegurança alimentar, por exemplo.
O G20 foi fundado em 1999 após uma crise financeira na Ásia como um fórum para os ministros da Economia e presidentes de bancos centrais discutirem questões econômicas e financeiras globais.
A partir de 2008, diante de uma maior percepção sobre a importância dos países emergentes na economia global, as reuniões passaram a contar com a presença de chefes de Estados. Mais amplo, o fórum englobou outros temas além da economia, entre os quais ambiente, energia e segurança.
Atualmente fazem parte do grupo a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Europeia e da União Africana.
Os membros do G20 se reúnem anualmente para discutir iniciativas políticas. Outros países podem ser convidados para as cúpulas. O grupo se define como o principal fórum de cooperação econômica internacional, com “papel importante na formação e no fortalecimento da arquitetura e da governança global em todas as principais questões econômicas internacionais”.
O mandato brasileiro na presidência do G20 vai até o dia 30 de novembro de 2024.