A principal passagem de fronteira do Líbano para a Síria amanheceu destruída nesta sexta-feira por um novo bombardeio, forçando as pessoas a contornar “uma enorme cratera” e escombros para chegar ao outro lado.
A conselheira sênior de Comunicações da Agência de Refugiados da ONU, Acnur, para o Oriente Médio e Norte da África disse que “houve dois ataques e uma enorme cratera foi criada na terra de ninguém entre o lado sírio e o libanês”.
Desespero para fugir
Rula Amin ressaltou que o ataque tornou muito mais difícil a passagem de veículos por esta estrada. Falando de Amã, ela disse que as pessoas na travessia de Masnaa estavam tão “desesperadas para fugir do Líbano que realmente atravessaram a pé aquela estrada destruída”.
Centenas de milhares de pessoas cruzaram a fronteira para a Síria por essa rota nos últimos 10 dias, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações, OIM.
De acordo com as autoridades de saúde libanesas, ataques terrestres e aéreos israelenses em todo o Líbano, incluindo o sul de Beirute, mataram 37 pessoas nas últimas 24 horas, com outras 151 feridas.
Rotas de fuga
O chefe do escritório da OIM no Líbano, disse que “o conflito está se intensificando”. Falando de Beirute, Mathieu Luciano afirmou que entre 21 de setembro e 3 de outubro, aproximadamente 235 mil pessoas cruzaram a fronteira para a Síria por terra, incluindo 82 mil libaneses e 152 mil sírios.
Citando as autoridades libanesas, Luciano acrescentou que, no mesmo período, 50 mil pessoas, principalmente libaneses, e 10 mil sírios, partiram do aeroporto de Beirute e cerca de 1 mil fugiram por mar.
Estima-se que cerca de um milhão de pessoas tenham sido deslocadas no país desde outubro passado, em meio à intensificação das trocas de tiros em ambos os lados da Linha Azul patrulhada pela ONU, que separa o Líbano de Israel, após o início da guerra em Gaza.
Dados da OIM indicam que, 400 mil pessoas foram deslocadas somente nas últimas duas semanas, em meio às operações militares israelenses em andamento no Líbano, incluindo incursões terrestres no sul.
Impacto nos trabalhadores migrantes
Segundo Luciano, “destes, mais de 165 mil estão vivendo em 800 abrigos coletivos em todo o país”. Ele afirmou que “os números continuam a aumentar, à medida que os bombardeios pesados continuam ao sul no [Vale] Beqaa, em Beirute e outras regiões.”
Os profissionais humanitários ressaltaram a preocupação com a situação dos 180 mil trabalhadores migrantes do Líbano, muitos dos quais são empregadas domésticas, que ficaram desamparadas pelo deslocamento em massa.
O representante da OIM citou “relatos crescentes de trabalhadoras domésticas migrantes sendo abandonadas por seus empregadores libaneses, ou deixadas nas ruas ou em suas casas enquanto seus empregadores fogem”. Elas vêm da Etiópia, do Quênia, do Sri Lanka, Sudão, Bangladesh e Filipinas e também foram profundamente afetadas pela violência no país.
Avião com ajuda médica chega à Beirute
Nesta sexta-feira, um primeiro avião de carga humanitário aterrissou em Beirute com suprimentos médicos suficientes para tratar dezenas de milhares de pacientes feridos.
Recebendo com satisfação a notícia da chegada do voo, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus, disse que novos voos estão programados para transportar mais suprimentos para traumas, bem como para saúde mental e cólera.