O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, encontrou-se com seu homólogo chinês, Wang Yi, neste sábado (27), durante uma cúpula no Laos, horas depois de criticar o que chamou de “ações crescentes e ilegais” de Pequim no mar do Sul da China.
Blinken criticou o regime chinês devido às ações de sua guarda costeira contra embarcações das Filipinas, aliadas dos EUA no tratado de defesa do mar da China Meridional. Mas também elogiou os dois países por suas diplomacias depois que Manila concluiu uma missão de reabastecimento para tropas em um banco de areia disputado, sem impedimentos do país comandado pelo líder Xi Jinping.
Blinken e Wang apertaram as mãos e trocaram cumprimentos na frente das câmeras, mas não fizeram comentários antes de passarem para conversas a portas fechadas. Foi o sexto encontro de ambos desde junho de 2023. Na ocasião, Blinken havia visitado Pequim em um sinal de melhora nas relações entre as duas maiores economias do mundo.
O secretário de Estado americano está na capital do Laos, Vientiane, para a reunião dos ministros de Relações Exteriores da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), ao lado de diplomatas de outras grandes potências, incluindo Rússia, Índia, China, Austrália, Japão e da União Europeia.
“Estamos satisfeitos em observar o reabastecimento bem-sucedido hoje no recife de Ayungin, que é o resultado de um acordo alcançado entre as Filipinas e a China”, disse Blinken aos ministros das Relações Exteriores da Asean. “Nós aplaudimos e esperamos que isso continue no futuro.”
Analistas alertavam para um grande conflito armado se a situação não se estabilizasse, uma vez que o acordo de defesa mútua entre Manila e Washington levaria à participação militar dos EUA em um eventual confronto entre filipinos e chineses.
Há anos, a presença de soldados na região vem irritando a China, que acumula atritos com as Filipinas relacionados às missões de Manila a um navio da Marinha encalhado no recife de Ayungin.
Os dois lados chegaram a um “arranjo provisório” esta semana sobre como conduzir as próximas missões. No domingo (21), o Ministério das Relações Exteriores das Filipinas anunciou o acordo entre os países em um comunicado.
Blinken e Wang ainda discutiram sobre Taiwan e as preocupações a respeito das recentes “ações provocativas” de Pequim, incluindo um bloqueio simulado durante a posse do presidente taiwanês, Lai Ching-te, segundo um funcionário do Departamento de Estado dos EUA.
Eles concordaram em continuar o progresso nos laços militares, disse a autoridade, acrescentando que Blinken também discutiu o apoio de Pequim à base industrial de defesa da Rússia e alertou sobre novas ações dos EUA contra empresas chinesas. O americano, porém, não teria recebido de Wang nenhuma garantia de mudanças.
O Ministério das Relações Exteriores da China não fez nenhuma declaração imediata sobre a reunião.
A cúpula da Asean acolheu medidas práticas não especificadas para diminuir a tensão no mar do Sul da China e evitar acidentes e erros de cálculo, ao mesmo tempo em que instou todas as partes a interromperem ações que possam complicar e agravar as disputas.
No encontro, focado em segurança, Blinken disse também que os EUA estavam “trabalhando intensamente e todos os dias” para alcançar um cessar-fogo na guerra que devasta a Faixa de Gaza e encontrar um caminho para uma paz duradoura.
Na conferência, ministros ainda descreveram os testes de mísseis da Coreia do Norte como acontecimentos preocupantes e pediram soluções pacíficas para os conflitos na Ucrânia e em Gaza, manifestando preocupação com a crise humanitária e as “baixas alarmantes” nas regiões.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse à margem do fórum que as diretrizes sobre a operação de ativos nucleares dos EUA na península coreana, oficialmente destinadas a estabelecer uma dissuasão integrada às ameaças norte-coreanas, estavam aumentando as preocupações com a segurança regional.
“Até agora não conseguimos nenhuma explicação do que isso significa, mas não há dúvida de que causa ansiedade adicional”, disse Lavrov, citado pela agência de notícias estatal russa RIA.
“Eles estão ativamente inflamando a atmosfera ao redor da península coreana, militarizando sua presença e conduzindo exercícios que visam, francamente, estar prontos para uma ação militar”, disse o russo, de acordo com a agência Interfax.