O bilionário Bill Ackman afirmou neste domingo (7) que o presidente Joe Biden não deveria ter decidido concorrer à eleição, deixando o caminho livre para uma alternativa. O investidor tampouco sinalizou apoio ao adversário republicano, declarando que Donald Trump “gera instabilidade, vamos dizer assim”.
Ackman participou de um painel da Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros de Harvard e do MIT em Cambridge (EUA). Questionado sobre o que o preocupa atualmente, ele apontou os conflitos globais e o que vê como uma crise de liderança.
Um dos impulsionadores de uma candidatura do CEO do JP Morgan, Jamie Dimon, à Presidência americana, ele repetiu neste domingo que acreditava no executivo como uma boa opção. Segundo ele, Dimon estava interessado e gostaria de se candidatar, mas foi demovido pelo custo pessoal de uma campanha para sua vida e sua família.
“Liderança realmente importa. Houve um período em que empresários pensavam que não importa quem era o presidente. Mas governos são tão importantes hoje, a escala de impacto, decisões que vão de preços de commoditties a ir a uma guerra ou não, que se tornaram um enorme fator em nossos países e em nossa felicidade. Eu me preocupo com isso”, disse.
Instado a comparar o cenário americano com o brasileiro, Ackman disse que, considerando os níveis inflacionários e a instabilidade nos Estados Unidos, o país está mais semelhante ao Brasil.
“Nós estamos em uma trajetória em direção ao Brasil. Se você olhar para déficit, desarmonia política”, disse em tom de piada, sob risos da plateia.
Ao mesmo tempo, o bilionário elogiou as condições brasileiras. Em sua visão, o país tem enormes recursos, uma grande população e é menos competitivo para negócios do que os EUA, o que favoreceria o empreendedorismo.
Ele disse que, se estivesse na situação dos estudantes brasileiros na plateia, provavelmente voltaria ao país de origem para começar um negócio. “Acho que é um país rico em oportunidades”, disse.
Sobre sua atuação política, cujo maior exemplo recente foi o envolvimento na campanha para a saída da então reitora de Harvard, Claudine Gay, a primeira mulher negra a ocupar o cargo, ele disse que vê como uma obrigação se manifestar sobre temas em que entende necessitarem de “intervenção”.
Gay, Sally Kornbluth, reitora do MIT, e a então dirigente da Universidade Estadual da Pensilvânia, Elizabeth Magill, foram alvo de duras críticas nos EUA após participarem de uma audiência no Congresso sobre antissemitismo nos campi. Questionadas diretamente se discursos de apologia ao genocídio de judeus seriam punidos pelas instituições, elas deram respostas evasivas.
“Eles [as diretorias de Harvard e MIT] provavelmente não estão muito felizes que eu estou aqui hoje”, disse Ackman.
Ele defendeu sua postura afirmando que o que acontece no mundo, não apenas juros e PIB, importam para o trabalho do investidor. “É também o que acontece na sociedade, nos campi das universidades, nas várias ideologias e como elas impactam os negócios”, disse.
Ackman afirmou que seu envolvimento no embate sobre as universidades americanas decorreu de seu choque ao ver organizações estudantis criticarem Israel após os ataques pelo Hamas em 7 de outubro. Manifestações pró-Palestina por alunos foram vistas por alguns como manifestações legítimas de liberdade de expressão, e por outros como antissemitismo —opinião do bilionário.
No entanto, ele embasa sua crítica às instituições acadêmicas em uma percepção de que elas reprimem a liberdade de expressão por serem dominadas por movimentos políticos de esquerda.
Ackman também se tornou um notório crítico de políticas de diversidade (DEI, na sigla em inglês) em universidades e empresas.
“Sou a favor da diversidade, equidade e justiça. Acho importante ter organizações inclusivas. Inicialmente achei DEI uma coisa boa, mas o modo como foi implementada nos campi e em algumas empresas tem sido danoso não apenas aos beneficiários, mas também ao aumentar o racismo, em vez de diminuí-lo”, disse, sem explicar no que essa avaliação se apoia.