Nos últimos dias, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se mostrou mais receptivo a ouvir argumentos contra sua candidatura à reeleição, disseram correligionários nesta quarta-feira (17). A abertura ocorre após os dois principais líderes do Partido Democrata no Congresso expressarem preocupação com as perspectivas do pleito de novembro em conversas privadas com o presidente.
Biden não deu nenhuma indicação de que está mudando de ideia sobre permanecer na corrida, disseram os democratas, mas está disposto a ouvir dados de pesquisas novas e perguntou os possíveis caminhos para a vice-presidente Kamala Harris vencer caso ela seja sua substituta.
Os relatos sugerem que, pelo menos em particular, Biden está adotando uma postura mais aberta do que na semana passada, quando criticou deputados democratas que o pressionaram a se afastar.
Uma pessoa próxima ao presidente disse que seria errado chamá-lo de receptivo à ideia de desistir, mas que ele “está disposto a ouvir”. Ela enfatizou que não há sinal de que Biden esteja mudando de curso neste momento.
Os relatos sucedem as conversas do senador Chuck Schumer e do deputado Hakeem Jeffries, os dois principais democratas no Congresso, com Biden, na semana passada. Eles teriam dito que seus correligionários estavam preocupados com as eleições de novembro e o destino dos candidatos à Câmara e ao Senado caso ele permaneça na cabeça da chapa, de acordo com duas pessoas informadas sobre as conversas privadas.
A Casa Branca sugeriu que Biden não foi influenciado pela discussão.
“O presidente disse a ambos os líderes que ele é o indicado do partido, planeja vencer e espera trabalhar com ambos para aprovar sua agenda de cem dias para ajudar as famílias trabalhadoras”, disse Andrew Bates, porta-voz da Casa Branca.
As conversas entre Biden e líderes do Congresso, descritas sob condição de anonimato por serem discussões confidenciais sobre um assunto sensível, vieram à tona após mais democratas se mostrarem insatisfeitos com a manutenção da candidatura do presidente na quarta.
De forma privada, Schumer e Jeffries, ambos de Nova York, persuadiram funcionários do partido para adiar a nomeação de Biden por uma semana, prolongando o debate sobre a viabilidade de sua candidatura.
O deputado Adam Schiff, da Califórnia, tornou-se o legislador democrata de maior destaque a pedir a Biden que encerre sua candidatura. Jeffrey Katzenberg, copresidente da campanha de Biden, disse ao presidente que os doadores pararam de contribuir para sua campanha, de acordo com uma pessoa com conhecimento da conversa.
Em meio às múltiplas crises, Biden recebeu um diagnóstico de Covid na noite de quarta. O teste o isolou justamente quando sua campanha esperava intensificar suas aparições públicas na tentativa de mostrar que ele está apto a permanecer na corrida.
Após uma breve pausa nas repercussões da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump, as conversas entre os democratas sobre a substituição de Biden foram retomadas com vigor.
Os detalhes da conversa privada de Schumer com Biden em sua casa em Rehoboth Beach, Delaware, relatados anteriormente pela emissora ABC News, foram a mais recente indicação de que os principais democratas tentam convencer o presidente, que até agora se recusou a atender aos apelos para se afastar não apenas por seu próprio bem, mas também pelo bem do partido.
Em um comunicado, um porta-voz de Schumer, o líder da maioria, não negou a reportagem da ABC, mas a chamou de “especulação ociosa”. “O líder Schumer transmitiu as opiniões de sua bancada diretamente ao presidente Biden no sábado”, afirmou a nota.
Jeffries, líder da minoria, disse aos deputados democratas na semana passada que, em uma visita à Casa Branca na noite de quinta-feira (11), ele “expressou diretamente toda a extensão das perspectivas e conclusões sobre o caminho a seguir” a Biden.
Schumer e Jeffries deixaram claro ao presidente que queriam transmitir suas avaliações em particular, mas que não necessariamente permaneceriam assim por muito tempo, de acordo com um democrata próximo à liderança do Congresso.
Ambos os líderes estavam frustrados por Biden não parecer estar ouvindo seus avisos, acrescentou o democrata. A sensação entre alguns democratas de que o presidente se tornou mais disposto a ouvir foi relatada pela primeira vez nesta quarta, pela emissora americana CNN.
O desastroso desempenho de Biden no debate do mês passado, suas aparições públicas irregulares e suas dificuldades nas pesquisas têm alimentado preocupações entre os democratas. Quase dois terços deles querem que Biden desista da corrida, de acordo com uma pesquisa divulgada na quarta pela Associated Press e NORC, uma instituição de pesquisa independente da Universidade de Chicago.
Ainda mais preocupante para os democratas são os dados que receberam nos últimos dias que revelam a extensão do dano político nos membros do partido que permanecerem apoiando Biden. Uma pesquisa sugere que os eleitores desconfiam dos políticos eleitos que atestam a capacidade mental do presidente e o endossam.
Um assessor de Biden, que falou sob condição de anonimato, disse que há três fatos concretos que importam: pesquisas, dinheiro e quais estados estão em jogo. E, como esse assessor colocou, nenhum desses está indo na direção certa para Biden.
Foi nesse contexto que Schumer interveio nesta semana para adiar o início de uma chamada virtual para confirmar Biden como o candidato, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. O líder do Senado conversou com Jeffries, e ambos concordaram em pressionar o partido a adiar o início desse processo, de acordo com uma segunda pessoa familiarizada com o envolvimento deles, que também se recusou a ser identificada.
O governador Tim Walz de Minnesota, copresidente do comitê de regras do partido, que determina quando e como a nomeação vai acontecer, ligou para Jen O’Malley Dillon, chefe da campanha de Biden, na tarde de terça-feira (16) para informá-la de que a chamada deveria ser adiada, de acordo com uma pessoa informada sobre a ligação que a descreveu sob condição de anonimato.
Cedendo à pressão, os principais funcionários do Comitê Nacional Democrata anunciaram na quarta que a chamada virtual ocorrerá na primeira semana de agosto.
Os líderes democratas têm chegado às conversas com Biden armados com novos dados. De acordo com uma pesquisa da Blue Rose Research, uma empresa que se formou a partir do comitê de ação política pró-Biden Future Forward, mas que não está mais ligada à organização, apenas 18% dos eleitores e 36% das pessoas que votaram em Biden em 2020 acreditam que ele está mentalmente apto e preparado para ser presidente.
De acordo com o democrata próximo a ele, Schumer também recebeu dados de um importante comitê democrata mostrando o déficit de Biden crescendo para 5 pontos percentuais ou mais nos estados-chave de Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, e seu déficit em outros três estados-chave —Nevada, Geórgia e Arizona— fora da margem de erro da amostragem.
Até agora, apenas 20 membros da Câmara e um senador pediram publicamente ao presidente que se retire da corrida. Mas, em particular, vários expressaram profundas preocupações e disseram acreditar que ele está no caminho para perder a Casa Branca e arrastar suas chances de controlar o Congresso.
Carl Hulse
, Michael S. Schmidt
, Reid J. Epstein
, Peter Baker
e Luke Broadwater