O presidente Joe Biden alertou o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu que a continuidade do apoio dos EUA depende de Tel Aviv tomar ações “específicas, concretas e mensuráveis” para lidar com ataques a civis, sofrimento humanitário e a segurança de trabalhadores humanitários em Gaza.
Biden afirmou ainda a necessidade de um cessar-fogo imediato para estabilizar a região, proteger civis inocentes e combater a crise humanitária na Faixa de Gaza. É a primeira vez que o líder americano defende a cessação das hostilidades sem condicioná-la à libertação de reféns pelo Hamas.
“O Presidente Biden enfatizou que os ataques contra trabalhadores humanitários e a situação humanitária em geral são inaceitáveis. Ele deixou claro a necessidade de Israel anunciar e implementar uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para abordar o dano aos civis, o sofrimento humanitário e a segurança dos trabalhadores humanitários”, afirmou a Casa Branca em nota sobre o telefonema.
“Ele [Biden] deixou claro que a política dos Estados Unidos em relação à Faixa de Gaza será determinada pela nossa avaliação da ação imediata de Israel sobre essas medidas”, segue o texto.
Questionado sobre o que essa declaração significa, o secretário de Estado, Antony Blinken, respondeu a jornalistas em Bruxelas que “se não virmos as mudanças que precisamos ver [por Israel], haverá mudanças na nossa política”.
O diplomata americano fez um duro discurso sobre Tel Aviv, afirmando que o que distingue democracias de grupos terroristas é o valor dado à vida humana. “Se perdermos essa reverência pela vida humana, corremos o risco de nos tornarmos indistinguíveis daqueles que confrontamos”, afirmou Blinken.
O secretário reconheceu que Israel vem adotando medidas para combater a crise humanitária em Gaza, mas que os resultados até agora são “insuficientes e inaceitáveis”. Mais de 33 mil palestinos foram mortos, em sua maioria mulheres e crianças. A região vive uma crise de fome, segundo as Nações Unidas.
O aumento da pressão americana sobre Netanyahu acontece após Israel atacar um comboio de ajuda humanitária da ONG World Central Kitchen (WCK), matando sete pessoas, na última segunda (1º). A Casa Branca se disse “indignada” com a operação, que também gerou protestos dentro e fora de Israel.
Biden chegou a telefonar ao chef José Andrés, que comanda a organização, para prestar condolências. Blinken, por sua vez, disse nesta quinta que o ataque “não foi o primeiro incidente do tipo, mas deve ser o último”.
As declarações americanas marcam a posição mais dura adotada pelo país até agora em relação a Israel, a quem Biden prometeu apoio total no início da guerra contra o grupo terrorista Hamas, em outubro do ano passado.
Com o desenrolar do conflito e seu impacto sobre a população civil palestina, tanto Netanyahu quanto o presidente americano passaram a sofrer críticas internas e externas. Biden, que disputa a reeleição neste ano, vem enfrentando protestos de sua própria base nas primárias democratas.
A maior tensão entre os dois países agora é o plano israelense de uma ofensiva militar em Rafah, cidade no extremo sul do território onde hoje estão abrigados mais de um milhão de palestinos forçados a se deslocar pelo conflito, ao qual os EUA se opõem.