Biden arrisca comprometer seu legado, assim como RBG – 02/07/2024 – Mundo – EERBONUS
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Biden arrisca comprometer seu legado, assim como RBG – 02/07/2024 – Mundo

Ao insistir em se manter na disputa eleitoral, o presidente americano, Joe Biden, arrisca-se a repetir a juíza da Suprema Corte Ruth Bader Ginsburg e comprometer seu legado.

RBG, como ficou conhecida, era um ícone dos progressistas, mas manchou sua reputação no fim da vida, quando se recusou a se aposentar.

O presidente Barack Obama (2009-2017) estava no início de seu segundo mandato, e o Senado –que confirma ou bloqueia indicados à Suprema Corte– ainda era controlado pelos democratas.

Acadêmicos e políticos pressionavam Ginsburg, que tinha 80 anos e havia sobrevivido a um câncer no intestino e, depois, no pâncreas, a anunciar sua aposentadoria. Dessa maneira, estaria garantida a indicação, e confirmação pelo Senado, de uma substituta ou substituto progressista.

Ginsburg não ia desistir tão fácil. Tinha lutado muito para chegar lá. Foi a segunda mulher na história da Suprema Corte americana. Quando fez faculdade de Direito na Universidade Harvard, costumava ser abordada por alunos dizendo que ela não deveria ter “roubado” a vaga de um homem. Transformou-se em ídolo da esquerda por sua defesa firme de direitos das mulheres. Ganhou status de santa secular e estampava canecas, camisetas e memes.

Ela não se rendeu às pressões. Em 2014, os democratas perderam a maioria no Senado para os republicanos. Dois anos depois, o republicano Donald Trump se elegeu presidente.

A juíza morreu em setembro de 2020, aos 87 anos, de complicações do câncer. Trump, nos estertores de seu mandato, não perdeu tempo –indicou a conservadora Amy Coney Barrett para substituir RBG, e ela foi facilmente confirmada pelo Senado controlado pelos republicanos.

Barrett foi o quinto voto para derrubar a legislação Roe v. Wade, que garantia às mulheres americanas o direito ao aborto em nível federal e era tão cara a Ginsburg.

Sem perder a admiração por RBG, muitos progressistas passaram a vê-la de forma mais crítica.

Da mesma maneira, Biden pode colocar a perder seu legado de serviços prestados às causas progressistas ao insistir em se manter na disputa pela Presidência.

Sob sua égide, houve um salto nos investimentos em transição energética e mitigação de aquecimento global, redução no índice de criminalidade, diminuição da desigualdade e criação recorde de empregos. Nada mal, muito embora nada disso se reflita em sua popularidade —sua taxa de aprovação medida pelo instituto Gallup está em 38%.

Insistir em uma candidatura após o desempenho desastroso no debate da semana passada e dos inúmeros sinais de que não estaria apto para derrotar Trump e governar por mais quatro anos poderia comprometer o histórico de conquistas de Biden.

Não que sua saída da disputa seja garantia de uma transição tranquila. A última vez em que um presidente desistiu de concorrer à reeleição foi em 1968, e o desfecho não foi feliz para os democratas.

O então presidente democrata, Lyndon Johnson, surpreendeu os EUA ao anunciar, em março daquele ano, que não se candidataria, diante das pressões para retirada do Vietnã e seu desempenho morno na primeira primária.

Com a saída de Johnson, quatro candidatos democratas ganharam força para disputar a indicação do partido –o senador Bobby Kennedy, irmão do ex-presidente John; o senador Eugene McCarthy, o senador George McGovern e o vice de Johnson, Hubert Humphrey. Bobby Kennedy foi assassinado em junho daquele ano.

A convenção foi atribulada, com profundas divergências entre os delegados, que acabaram escolhendo Hubert Humphrey, vice de Johnson, para concorrer. Lá fora, a truculência da polícia contra os manifestantes antiguerra do Vietnã resultou em quebra-quebra nas ruas de Chicago.

Com o partido dividido e um candidato fraco, o democrata acabou perdendo para o republicano Richard Nixon.

A convenção democrata de 2024 será no dia 19 de agosto. A desistência de Biden pode não resolver o problema do partido. Mas sua insistência em concorrer pode custar mais caro do que a recusa de Ruth Bader Ginsburg de deixar a Suprema Corte.

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