Donald Trump deve vencer as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Se isso ocorrer, haverá tarifas maiores sobre os importados, alta de inflação e interrupção no corte de juros em 2025.
Essa é a avaliação de Maurício Une, economista do Rabobank, banco especializado em agronegócio. “Aqui no banco, a gente tem uma hipótese de que o Trump ganhe essa eleição”, afirma ele.
Com isso, a economia dos Estados Unidos cresce menos em 2025, complicando ainda mais o cenário internacional, uma vez que a China já vem mostrando desafios estruturais após a pandemia e a zona do euro não está ajudando muito. No Brasil, ainda se tenta uma coordenação maior entre política fiscal e monetária.
Com Estados Unidos e China vivendo um processo de desaceleração econômica, haverá uma demanda menor por commodities, afirma Une. Uma nova guerra comercial entre os dois gigantes, no entanto, abriria espaço para as exportações brasileiras.
Marcela Marini, especialista no setor de grãos do banco, afirma que, desta vez, o cenário poderia ser um pouco diferente do de 2017 e 2018. A China reduziria as compras dos americanos, mas atualmente ela está mais bem preparada para uma nova guerra comercial.
Os chineses vêm aumentando os estoques de grãos, inclusive com antecipações de compra até dos americanos. A situação ficaria mais complicada para os Estados Unidos, que estão produzindo uma safra recorde de 127 milhões de toneladas. Haveria um aumento dos estoques deles.
Marini afirma que a área de soja cresce 1,5% no Brasil na safra 2024/25, subindo para 47 milhões de hectares. O potencial de produção será de 167 milhões de toneladas, um volume jamais atingido pelo país.
Os preços internos, descolados dos de Chicago, ainda seriam favorecidos no início do próximo ano, devido à menor oferta de soja, câmbio e prêmios. Neste ano, os preços da oleaginosa recuaram 20% em dólares na Bolsa de Chicago e aumentaram 8% nos valores praticados em reais no mercado interno.
O atraso no plantio não vai afetar a produção de soja. Ao contrário, a cultura pode ser beneficiada pela incidência da luz solar, segundo ela.
O milho segue caminho inverso ao da soja e terá redução de área na safra 2024/25. Serão semeados 21,6 milhões de hectares, com potencial de produção de 125 milhões de toneladas, 2,5% a mais do que a deste ano.
A demanda interna aumenta, devido à procura do cereal para a produção de etanol e pelo setor de proteínas, sobrando menos para a exportação.
Na avaliação de Marini, as vendas externas brasileiras de milho, que caem para 38 milhões de toneladas neste ano, voltam a cair para 36 milhões em 2025. Tudo isso, no entanto, vai depender do clima, fator de preocupação constante para o produtor nos anos recentes.
Quanto aos preços para os produtores, os fundamentos internacionais não são muito favoráveis. Os Estados Unidos estão com a segunda safra próxima de 386 milhões de toneladas, o que garante uma melhora nos estoques mundiais e pressão negativa nos preços em Chicago.
O setor de proteínas vive um momento de recuperação, principalmente o da bovinocultura. Isso ocorre após dois anos desafiadores em termos de margens, diz Wagner Yanaguizawa, analista do banco para esse setor.
Será um ano de recuperação, mas o produtor deverá ter foco no planejamento de curto prazo, sem grandes alongamentos. O mercado apresenta variáveis que podem ter um fator desruptivo, tanto do lado da oferta como do da demanda.
O ponto positivo para o ano que vem é que a oferta global começa a cair de maneira mais consistente, e essa queda pode trazer oportunidades para o Brasil. Além de preço competitivo e da biossegurança, o país poderá ser favorecido por uma eventual guerra comercial entre Estados Unidos e China.
A carne suína também tem um cenário de oportunidades, principalmente porque muitos países ainda lutam para controlar a peste suína africana. A questão sanitária brasileira e a organização da cadeia quanto ao alojamento geram oportunidades para os preços em 2025. A produção será de 5,2 milhões de toneladas, e a exportação, de 1,3 milhão.
Com relação ao frango, o aumento de oferta continua, principalmente porque alguns países estão conseguindo reduzir o número de focos de gripe aviária, o que favorece a produção global.
Há, porém, oportunidades para o crescimento da oferta brasileira. Internamente, a carne de frango deve ganhar competitividade em relação à do boi. Externamente, China e Arábia Saudita vão continuar sendo centro de oportunidades.
O suco de laranja, que está com preços elevados neste ano, manterá tendência de alta em mais um ano. O setor tem a menor safra em 35 anos, com redução de 30% neste ano, segundo Andrés Padilla.
Os dados mais recentes do Fundecitrus indicam 215 milhões de caixas, abaixo da média de 312 milhões dos últimos dez anos. Clima, greening e fenômenos naturais afetam a produção em todas as regiões do mundo, mas o Brasil é um dos poucos com possibilidades de elevar produção.
Os preços do café, que estão em alta, vão manter essa pressão devido a problemas geopolíticos e a incertezas na oferta.
Guilherme Morya, analista de café, estima os preços de Nova York entre US$ 2,20 e US$ 2,45 por libra peso nos próximos meses.
A demanda interna cresce, e as exportações deverão ficar entre 45 milhões a 47 milhões de sacas no próximo ano.
Leite
Oferta e demanda continuam crescendo em 2025, e o produtor manterá margens positivas, segundo avaliação do banco.
Celulose
O setor encontra desafios porque a oferta está crescendo. Com isso, o preço médio da fibra curta na China de US$ 640 por tonelada deve recuar para US$ 580 no próximo ano, afirma Andrés Padilla.
Açúcar
A moagem de cana, que fica em 600 milhões de toneladas nesta safra, recua para 580 milhões na próxima. A safra de açúcar sobe para 40,1 milhões de toneladas, mas a de etanol recua para 32,4 bilhões de litros na região centro-sul.
Açúcar 2
É preciso, no entanto, cautela com a previsão de moagem da próxima safra. Seca e efeitos das queimadas precisam ser mais bem dimensionados, segundo Andy Duff, analista de açúcar e etanol.
Insumos
O setor de grãos deve viver um período de aperto nas margens, mas o produtor vai continuar investindo, afirma Bruno Fonseca
Insumos 2
As entregas de fertilizantes deverão ficar em 45,5 milhões de toneladas neste ano e sobem para 46,6 milhões no próximo, segundo o analista do Rabobank.