Rimal, outrora o local mais sofisticado e considerado um dos mais seguros da Cidade de Gaza, está em ruínas. O bairro nobre da capital do território palestino foi atingido pelos ataques de Israel, em meio à guerra do país com o Hamas, o que forçou a saída de grande parte de seus moradores.
Com seus bulevares, praças e casas de padrão bem superior ao quadro geral de pobreza de Gaza, Rimal foi alvo de um intenso bombardeio na ofensiva israelense de 10 de outubro, em que mais de 200 pontos do território foram atacados por “dezenas de caças” durante a madrugada.
Uma reportagem da BBC trouxe o depoimento de uma moradora de Rimal. Dina Faisal, 39, expôs imagens da casa onde morava com a mãe, pai, irmã e dois sobrinhos antes e depois dos ataques. Antes com um jardim colorido à frente, o imóvel ficou reduzido a cinzas.
“Achávamos que estávamos seguros em casa, mas de repente as janelas quebraram, as portas bateram e voaram”, afirmou Dina ao veículo britânico. “Nenhum lugar é seguro em Gaza.”
A agência Associated Press afirma que Rimal já havia sido atacado na ofensiva de 2021, mas nunca com a intensidade do conflito atual. As bombas de Israel destruíram apartamentos das classes mais altas da cidade, mesquitas, prédios de universidades e escritórios de empresas —como o da Paltel, a principal companhia de telecomunicações de Gaza.
“Israel destruiu o centro de tudo”, disse o empresário palestino Ali al-Hiyak à agência americana. “Este é o espaço da nossa vida pública, nossa comunidade.”
Localizado a 3 km a oeste do centro da Cidade de Gaza, Rimal é um bairro costeiro onde mora a elite da população, os cidadãos de classes média e alta. O espaço é margeado por duas das principais avenidas da cidade, a costeira Ahmad Orabi e a Omar Mukhtar, um bulevar que ficou parcialmente destruído.
Além da área residencial, o distrito abriga hospitais, hotéis, os restaurantes mais conhecidos de Gaza, clubes, praças e shoppings. É onde fica o porto da cidade, sede da Polícia Naval palestina.
Em Rimal também estão os principais prédios governamentais da Cidade de Gaza, incluindo ministérios, o Centro Palestino para os Direitos Humanos e embaixadas de diversos países. Fica no bairro também o Parlamento da Autoridade Nacional Palestina.
Um estudante de medicina americano que morou em Gaza disse ao Financial Times que Rimal era uma área “vibrante”. “Historicamente, é um espaço rico, com todas as coisas chiques. É conveniente, fica perto de tudo.”
O jornal afirma que Rimal era uma espécie de oásis num território onde mais da metade da população vive na pobreza, após um bloqueio imposto por Israel e Egito em 2007. É o bairro onde a população vai para encontrar os amigos, ir a uma cafeteria e se divertir.
Segundo o governo israelense, Rimal tornou-se um alvo por reunir a infraestrutura do Hamas, como quartéis-generais, centros de controle operacional, espaços para armazenamento de armas e uma agência do Banco Nacional Islâmico, instituição que teria ajudado a financiar os ataques.
Uma pessoa que mora no bairro disse ao Financial Times que ali se sentia segura. Após os ataques, a família foi viver em outra área com seus tios. Mas, se possível, querem voltar a viver nem Rimal.
Iyad al-Bozum, porta-voz do Ministério do Interior de Gaza, afirmou que a destruição foi tão grande que “não haverá mais nada para reconstruir”. “Será impossível viver aqui.”