Depois de manchar de tinta o Arco da Paz e a fachada do teatro La Scala, ecoativistas tingiram de laranja uma árvore de Natal customizada pela marca de luxo Gucci na galeria Vittorio Emanuele, um dos endereços mais nobres de Milão, nesta sexta-feira (29).
Por trás da intervenção estava o grupo ambientalista Ultima Generazione, ou última geração. Em vídeos e imagens publicados em suas redes sociais, é possível ver três de seus integrantes subindo na plataforma que sustentava a árvore, composta por reproduções de bolsas empilhadas, lançando potes de tinta sobre a instalação.
Enquanto isso, um jovem discursa ao mesmo tempo em que gruda uma de suas mãos na plataforma —estratégia habitual dos ativistas do grupo.
Em nota, o Ultima Generazione afirmou que buscava protestar contra “a ostentação e a promoção do luxo como símbolo de uma cidade onde os estudantes não podem pagar o aluguel”. “Vendem a nós esse mundo como se fosse algo alcançável, mas ele não é. O sistema em que vivemos não é sustentável, nem econômica nem ecologicamente.”
Ele ainda reivindicou a criação de um “fundo de reparação” de € 20 milhões (cerca de R$ 107 milhões na cotação atual) para os danos causados pela crise climática.
“Em vez de ceder o precioso espaço da galeria Vittorio Emanuele a uma multinacional de luxo, alimentando assim a quimera do consumismo, a prefeitura de Milão poderia utilizar este local para iniciativas sociais ou educativas para toda a população”, diz em outro comunicado, este reproduzido pelo jornal local Corriere della Sera. “Quando o governo começará a se preocupar com os pobres e aqueles que passam necessidade em vez dos ricos?”
Depois de sofrer críticas pelos ataques a obras de arte que vinha realizando desde 2022, ecoativistas na Europa parecem ter mudado de estratégia para chamar a atenção da opinião pública e, nos últimos meses, passaram a lançar com frequência tinta colorida sobre marcos arquitetônicos do continente.
Só na Itália, já foram alvos, por exemplo, as águas da Fontana di Trevi, em Roma, as paredes externas do Palazzo Vecchio, em Florença. Os manifestantes afirmam utilizar tinta lavável —este também é o caso da árvore de Natal da Gucci.
O governo italiano teve que realizar uma operação especial de restauro da estátua do rei Vittorio Emanuele 2º, em frente ao Duomo de Milão, contudo, depois de mais de um mês de tentativas fracassadas de remover com água a tinta amarela que ativistas jogaram no monumento.
O governo da conservadora primeira-ministra Giorgia Meloni tenta agir para reprimir esse tipo de intervenção. Em abril, foi anunciado um projeto de lei que prevê multas mais rigorosas, entre € 10 mil e € 60 mil (R$ 54 mil e R$ 322 mil), para quem destrói, mancha ou desfigura, total ou parcialmente, bens culturais e paisagísticos.
As medidas se juntam a sanções já presentes no código penal para esse tipo de crime, que hoje chegam a cinco anos de prisão e multa de € 15 mil (R$ 80 mil).