Entidades da ONU alertam sobre a piora do sofrimento de civis na Ucrânia. O Conselho de Segurança se reúne nesta segunda-feira, em Nova Iorque, para discutir a situação na véspera do milésimo dia da invasão em grande escala da Rússia.
Dezenas de civis, incluindo crianças, foram mortos e feridos desde domingo em ataques contra áreas residenciais nas cidades de Sumy e Odessa. A infraestrutura de energia foi atingida em meio à rápida queda de temperaturas. Ucranianos já vulneráveis lidam com cortes da eletricidade e a limitação do acesso a serviços essenciais como água e aquecimento em todo o país.
Direito Internacional Humanitário
Agências de notícias citam dados das autoridades confirmando danos causados pelo lançamento de mísseis russos nesta segunda-feira, deixando até 21 mortos e mais de 100 feridos.
O coordenador humanitário das Nações Unidas na Ucrânia, Matthias Schmale, disse que a populações e a infraestrutura civil são protegidos pelo Direito Internacional Humanitário e nunca devem ser atingidos.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, declarou que a onda de ataques russos à rede elétrica da Ucrânia no fim de semana infligiu mais sofrimento aos civis, com uso de mísseis e drones de longo alcance.
Com pelo menos 15 regiões afetadas em todo o país, incluindo a capital Kiev. Ele destacou que os ataques a instalações de energia são “mais um golpe cruel para os civis que já tanto suportaram os efeitos do conflito”.
Feridas psicológicas
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, revelou que pelo menos duas crianças foram mortas e onze ficaram feridas em Sumy. Com o número eleva-se para 2.406 o total de mortos ou feridos desde a escalada da guerra na Ucrânia.
Pelo menos 16 crianças ucranianas perdem a vida ou ficam feridas a cada semana, com outras “milhões vivendo em medo constante, muitas delas passando o equivalente a até seis horas por dia abrigadas em porões sob sirenes de ataque aéreo.”
Diante destas estimativas, a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, destaca que sem o apoio contínuo e crescente para as crianças “as feridas psicológicas da guerra ecoarão por gerações”.
Patrimônio Mundial
Já a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, condenou os ataques em larga escala realizados pela Rússia ao Centro Histórico de Odessa, um local do Patrimônio Mundial da cidade.
Cerca de 20 prédios, incluindo históricos, religiosos e educacionais, estão entre os danos causados entre quinta e sexta-feira ao local protegido pela Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco.
Ao condenar os atos “que violam o direito internacional”, a Unesco reiterou o apoio às vítimas, à população e às autoridades locais. A agência diz estar em contato com as autoridades municipais de Odessa e enviou especialistas para ajudar a avaliar os danos e a preparar a segurança dos edifícios.
Emergência humanitária e temores da crise energética
A ONU Mulheres sublinhou que civis, mulheres e meninas na Ucrânia estão sofrendo com a piora de ataques em grandes cidades, em meio a uma crescente emergência humanitária e temores da crise energética.
A agência estima que nos últimos dois meses, dezenas de milhares de mulheres e meninas foram forçadas a fugir das áreas da linha de frente. Elas são a maioria dos 4,6 milhões de deslocados internos e dos que buscam refúgio no exterior.
O grupo perfazendo 55% dos 14,6 milhões de necessitados de ajuda forma também a grande parte dos 2,5 milhões de pessoas com necessidade urgente de apoio para episódios de violência de gênero, incluindo sexual.
Muitos destes casos não são relatados devido ao estigma generalizado e ao acesso limitado a serviços de saúde e ao apoio, por estes locais estarem sendo destruídos.
Subestações de energia desconectadas
As usinas nucleares ainda em operação reduziram a produção de eletricidade como medida de precaução, após atividades militares generalizadas em todo o país supostamente visando o tipo de infraestrutura.
A segurança nuclear foi colocada ainda sob mais pressão, segundo o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Aiea, Rafael Mariano Grossi.
Mesmo sem terem sido diretamente impactadas pelos novos ataques, as usinas nucleares de Khmelnytskyy, Rivne e Sul da Ucrânia registram danos em subestações elétricas.
As principais linhas de fornecimento de energia de quatro subestações foram desconectadas e apenas dois dos nove reatores do país estão operacionais gerando eletricidade, estando a funcionar a 100% da sua capacidade.