A Copa do Mundo se aproxima de seu final (faltam quatro jogos) e quatro países continuam na luta pela Taça Fifa. O Brasil não é um deles. Caiu nos pênaltis, diante da Croácia, na sexta-feira (9).
Sempre que a seleção brasileira é eliminada de uma Copa, comentaristas/analistas/jornalistas buscam uma explicação, ou mais de uma, para que isso tenha acontecido.
Na cabeça do brasileiro, não estar pelo menos na final é um desastre, uma tragédia, um 7 a 1. Algo inconcebível, difícil de mastigar, engolir e digerir.
Afinal, o Brasil é o mais vitorioso em Copas (cinco), o único a ter disputado todas as Copas (22), o que mais disputou partidas em Copas (114), o que mais jogos ganhou em Copas (76), o que mais gols marcou em Copas (237).
Somos os melhores. Somos o país do futebol. Como não ganhamos?
Não ganhamos porque o futebol não é ciência exata e porque a Copa do Mundo, com seus mata-matas a partir das oitavas de final, equilibra as forças. Invariavelmente, há uma surpresa, ou mais de uma.
Nesta Copa, a do Qatar, a queda do Brasil em uma partida eliminatória não foi a única de um favorito. Teve a Espanha, que parou em Marrocos, também nos pênaltis, depois de empolgar com um 7 a 0 na estreia diante da Costa Rica. Portugal idem, parou em Marrocos.
A seleção de Tite (que agora não é mais de Tite) chegou a animar ao golear a Coreia do Sul nas oitavas, depois de uma primeira fase não muito auspiciosa (vitórias difíceis sobre Sérvia e Suíça e derrota para Camarões, esta com titulares poupados).
Animação efêmera, de três dias de duração. Diante dos croatas, a equipe voltou a pecar no quesito que, a meu ver, foi determinante para sair da Copa: a falta de gols.
Óbvio, dirá o leitor. Futebol é bola na rede, né?
A questão é que, fazendo uma adaptação com a famosa frase de Chacrinha, o Velho Guerreiro, “quem não finaliza (bem) se trumbica”.
Neste Mundial o Brasil, apesar de criador e finalizador (não se pode acusar a seleção de não buscar o gol incessantemente), teve uma dificuldade tremenda –exceção ao primeiro tempo do duelo com os sul-coreanos– de “sair para o abraço”. Ou, no caso desta seleção, “sair para a dancinha”.
Contra a Croácia, as tentativas de gol pulularam. De acordo com a Opta (empresa britânica de dados estatísticos esportivos), o Brasil finalizou 21 vezes. Onze, ou mais da metade, tiveram a direção certa, mas só uma bola entrou.
O goleiro Livakovic destacou-se, como tinham se destacado os goleiros Milinkovic-Savic (Sérvia), Sommer (Suíça) e Epassy (Camarões).
Porém quem faz do goleiro o nome do jogo é quem ataca. Por mais que o goleiro seja bom, a maioria das bolas que ele defende são as que vão na sua direção (alguns aceitam até essas, tornando-se frangueiros). O goleiro joga quase sempre centralizado. Se a bola vai forte, no canto, dificilmente ele salva.
Livakovic fez uma dezena de defesas, mas nenhuma espetacular, de bola que foi no ângulo. Neymar (é fácil colocar a culpa nele, mas não é só dele), Vinicius Junior, Lucas Paquetá, Casemiro (já no fim da prorrogação), todos eles finalizaram mal, em cima do camisa 1 croata. O demérito é de quem chutou.
A era Tite termina meio “déjà vu”. Na Copa de 2018, na derrota para a Bélgica nessa mesma fase, a de quartas de final, a seleção finalizou 27 vezes, nove delas na direção do gol, e uma única vez a bola entrou. Courtois fez duas ótimas defesas, o resto foi incompetência dos brasileiros.
Virá um novo técnico, talvez Neymar não esteja mais presente (para mim, estará, pois vai querer superar o número de gols de Pelé pela seleção), alguns jogadores não devem mais ser convocados, e outros, mais jovens, permanecerão ou chegarão.
Será prioridade na caminhada até a Copa de 2026, quando o Brasil completará 24 anos sem erguer a taça (igualando o jejum de 1970 a 1994), além de manter o alto número de chutes (ou cabeçadas) a gol, acertar o pé (ou a cabeça).
Tem como fazer isso? Há de ter, ou na Copa na América do Norte a avaliação será similar a de agora: “Fomos melhores, mas faltaram gols. Perdemos”.
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