O eclipse solar é um fenômeno natural que impressiona os observadores em todo o mundo, como o último evento anular que ocorreu no dia 14 de outubro de 2023 e pôde ser observado no Brasil. Esses acontecimentos solares costumam ocorrer anualmente, mas não é possível observá-los em todas as regiões do planeta. Por exemplo, no dia 2 de outubro de 2024 ocorrerá o próximo eclipse solar anular, mas uma celebração semelhante só poderá ser observada no Brasil em janeiro de 2028.
Apesar de a ciência conhecer parte dos fenômenos atmosféricos que acontecem na Terra, muitos processos naturais ainda são considerados desconhecidos ou sabemos muito pouco a respeito deles.
Um desses efeitos interessantes e misteriosos é a dissipação das nuvens durante um eclipse solar, algo que não havia sido compreendido completamente pelos cientistas até então.
A fim de aprender mais sobre o efeito, uma equipe de cientistas do Instituto Meteorológico Real da Holanda (KNMI), em parceria com a Universidade de Tecnologia de Delft (TU Delft), realizou uma pesquisa para explicar o motivo disso acontecer na atmosfera da Terra. O artigo foi publicado na revista científica Communications Earth & Environment.
“Nuvens cúmulos sobre terra começam a desaparecer quase instantaneamente durante um eclipse solar parcial. Até recentemente, medições por satélite durante o eclipse resultavam em manchas escuras no mapa de nuvens, mas pesquisadores da TU Delft e KNMI conseguiram recuperar as medições por satélite usando um novo método. Os resultados podem ter implicações para as ideias propostas de engenharia climática, porque nuvens que desaparecem podem se opor parcialmente ao efeito de resfriamento dos eclipses solares artificiais”, é descrito em um comunicado sobre a pesquisa.
Nuvens desaparecem durante eclipse solar
Os pesquisadores explicam que muitos efeitos dos eclipses solares são estudados há décadas, mas pouco se sabia sobre a reação das nuvens durante eventos dessa categoria. Um dos autores do estudo, Victor Trees, afirma que apenas as observar desaparecendo durante um eclipse solar não é uma evidência real, afinal, as nuvens estão constantemente em mudança no céu.
Os satélites são instrumentos mais confiáveis para coletar dados sobre esses efeitos, pois realizam medições de grandes áreas simultaneamente. Infelizmente, as condições climáticas durante um eclipse solar não são exatamente confiáveis, já que ocorre uma redução significativa da luz ao decorrer desses eventos.
A imagem mostra a evolução das nuvens no continente africano durante o eclipse solar que ocorreu em 2005.Fonte: Communications Earth & Environment
Quando os cientistas visualizaram os dados, perceberam que isso resultou em manchas escuras nos mapas de nuvens, invalidando, consequentemente, o estudo sobre o fenômeno do desaparecimento das nuvens.
É importante lembrar que o efeito de desaparecimento durante um eclipse solar não ocorre com todas as nuvens no céu — normalmente, as nuvens cúmulos desaparecem. Até por isso, o clima pode ser um problema durante a observação do evento.
Qual é o motivo desse efeito?
Após uma análise minuciosa, os pesquisadores puderam restaurar as medições dos satélites durante eclipses solares por meio de um cálculo sobre a porcentagem do Sol obscurecida em cada hora e local da Terra.
“De longe, a maioria do eclipse solar consiste em um eclipse parcial, onde ainda há muita luz lá fora. Neste eclipse parcial, os satélites recebem luz solar refletida suficiente, após a correção do obscurecimento, para medir as nuvens de forma confiável”, diz Trees.
A ilustração apresenta um modelo do que acontece quando as nuvens desaparecem durante um eclipse solar.Fonte: Communications Earth & Environment
Após a correção, a equipe conseguiu estudar três eclipses solares que ocorreram sobre a África. Assim, constataram que muitas nuvens começaram a desaparecer quando esses eventos estavam apenas 15% obscurecidos — os fenômenos ocorreram entre 2005 e 2016. A partir dos dados coletados, os pesquisadores realizaram simulações computacionais em um software chamado DALES, visando compreender o motivo desse mistério.
Conforme os resultados das simulações, o desaparecimento das nuvens durante um eclipse solar é um efeito causado pela atmosfera da Terra. Quando a luz é bloqueada, a superfície da Terra esfria e reduz as correntes acendentes de ar. Como essas correntes ascendentes são essenciais para a formação de nuvens cúmulos, algumas delas não conseguem sustentar suas formações e começam a desaparecer.
“Isso poderia ser um alerta para a engenharia climática. Se eclipsarmos o Sol no futuro com soluções tecnológicas, isso poderá afetar as nuvens. Menos nuvens poderiam se opor parcialmente ao efeito pretendido da engenharia climática, porque as nuvens refletem a luz solar e, portanto, ajudam a resfriar abaixo da Terra”, conclui Trees, ao explicar a reação dos efeitos solares e das nuvens.
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