Líria Varne saiu de São Paulo em 2021 decidida a encontrar uma cidade menor mas comprometida com a cultura. A artista brasileira escolheu Braga a dedo pelo ambiente artístico da cidade portuguesa.
“Víamos matérias do que acontecia em Braga e parecia que a cultura realmente tinha um espaço. E isso é fundamental para uma sociedade. Mas foi quando eu cheguei que eu fui compreender que havia feito a escolha certa para mim”, conta à ONU News.
A cidade certa
Ela trabalha com arte analógica, pintura, escultura e novas tecnologias e encontrou em Braga espaço para explorar o percurso artístico e também novos temas, ligados à história de democracia portuguesa.
“Questões sociais relacionadas a moradia, aos estudantes deslocados e que me levaram à história do 25 de Abril”, explica. Líria acrescenta que esta investigação transformou-se num artigo que vai ser publicado numa revista científica.
“Essa experiência é o início de uma história que me liga a Braga e à Media Arts como criadora. E espero poder contribuir cada vez mais”, afirma.
Já Carlo Giovani confessa ter ficado surpreendido pelo ambiente cultural da cidade quando chegou há oito anos. O ilustrador italo-brasileiro escolheu Braga porque procurava uma vida mais tranquila, onde pudesse trabalhar remotamente mas, rapidamente, percebeu que não viveria apenas de trabalhos com clientes no estrangeiro.
“Eu fiquei bastante surpreso pela atividade cultural da cidade, pelos projetos que a cidade está envolvida, me surpreendeu bastante pela positiva”, conta.
Formar crianças para a Cultura
Com formação em design e experiência em ilustração, revistas, televisão, publicidade e animação, Carlo Giovani rapidamente encontrou espaço em Braga para desenvolver o seu trabalho, sobretudo junto das crianças.
“São principalmente crianças, também trabalho com pessoas com necessidades especiais e também formação de professores”, explica.
O ilustrador afirma estar comprometido com a formação de um público apto a perceber diversas artes e a fazer a ligação com a Cultura, “também desmistificando algumas coisas em relação ao processo criativo, como dom ou inspiração divina, essas coisas que na verdade, passo para eles que é muito mais colaboração, trabalho duro, fazer as perguntas certas, investigar”.
Os artistas e as cidades criativas
Artistas como Líria e Carlo vêm contribuindo para o que a Organização das Nações Unidas para Cultura, Ciência e Educação, Unesco, define como Cidades Criativas, tema que esteve em grande destaque no início de julho durante a conferência dedicada ao assunto.
Todos os anos, delegações de 350 cidades juntam-se numa conferência que lhes dá fôlego para os próximos 12 meses. A Conferência das Cidades Criativas da Unesco é muito aguardada pelos participantes que chegam de todos os cantos do mundo com a missão de encontrar a cidade do futuro.
“Somos de culturas diferentes, temos orçamentos diferentes e esta missão une-nos”, explica Joana Miranda. A coordenadora da conferência, que decorreu na cidade portuguesa de Braga entre 1 e 5 de julho, afirma que este encontro anual “cara a cara” é essencial para renovar compromissos, apresentar resultados e delinear objetivos. A celebrar 20 anos, a rede decidiu chamar os mais jovens à mesa da discussão.
“Não basta dizer que eles são os cidadãos de amanhã. Eles são os cidadãos do presente e temos de encontrar formas de os trazer à discussão”, explica Joana Miranda, defendendo que a solução passa também por incluir os jovens na implementação das políticas públicas desenvolvidas nas cidades.
Unesco é o motor das cidades criativas
A Rede de Cidades Criativas foi criada pela Unesco em 2004 para desenvolver a cooperação internacional entre municípios que encaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento sustentável.
“A Unesco foi visionária e continua a sê-lo, porque cada vez mais cidades se identificam com esta missão”, garante a coordenadora da conferência.
A dinamização e apoio da Unesco tem sido fundamental para que estes encontros, defende Joana Miranda mas não só. “Penso que será uma forma de muito importante para a própria Unesco pensar o seu posicionamento e a sua própria forma de estar no ecossistema das Nações Unidas e no mundo”, acrescenta.
Afinal, o que é uma cidade criativa?
Mas afinal o que é uma cidade criativa? “É a pergunta de um milhão de dólares”, brinca.
A coordenadora da conferência foi aperfeiçoando a resposta e não tem dúvidas que uma cidade criativa é aquela que se compromete a colocar a cultura como um fator essencial na implementação de políticas económicas, financeiras e sociais.
“É uma cidade que respeita a cultura, no seu sentido alargado, com um lugar no seu orçamento, reconhecendo como um direito semelhante ao direito de não ter fome, ou o direito à habitação”.
A rede que esteve reunida em Braga, Portugal despede-se até ao próximo ano e regressa a casa com doses renovadas de empenho.
“Estas cidades têm muita força. Não são governos. Mas são cidades que têm muita força, que se unem, que trabalham muito em conjunto, que gostam muito de colaborar e que têm políticos muito empenhados”, conclui.