Houve sexismo? Dá para ser assertivo? Ou não passou de um mal-entendido?
Minhas indagações são decorrentes de um gesto do árbitro Juan Luca Sacchi, 38, em Lecce x Sassuolo pelo Campeonato Italiano, que foi interpretado como misoginia.
E em decorrência desse ato, ele, conforme publicado por veículos da mídia esportiva, pegará pelo menos jogo de suspensão.
Antes da partida de sexta-feira (6), as duas equipes perfilavam-se no túnel que dá acesso ao gramado do estádio Comunale Via del Mare, em Lecce, no sul da Itália.
A assistente de arbitragem Francesca Di Monte estava à frente da fila de atletas do Lecce, tendo logo atrás dela o capitão do time da casa, o atacante brasileiro Gabriel Strefezza.
O vídeo da cena mostra então o outro bandeirinha, Domenico Palermo, aparentemente cumprimentando o capitão do Sassuolo, o zagueiro italiano Gian Marco Ferrari.
Francesca, então, estende a mão e cumprimenta Ferrari, para logo depois fazer o mesmo com Strefezza.
O próximo a passar pelo corredor foi Sacchi. Ele deu a mão para Ferrari e, ao se virar para o lado em que estavam os jogadores do Lecce, estendeu-a na direção de Francesca.
Ela se preparou para retribuir o gesto, porém, quando ia fazê-lo, o árbitro não quis, deixando-a “no vácuo” e saudando o capitão do time mandante.
É possível perceber, pela reação, que Francesca ficou surpresa e desapontada com a desistência, tanto que fez um breve movimento de reprovação com o rosto.
O jogo transcorreu sem incidentes relevantes e acabou 1 a 1, entretanto o ato de Facchi circulou por redes sociais e passou a ser malvisto pela comunidade.
O suposto comportamento sexista dele teria provocado uma reprimenda direta de Gianluca Rocchi, chefe da Associação Italiana de Arbitragem (AIA).
Uso “suposto” porque há margem para considerar, pelo ocorrido no vídeo, que não houve misoginia de Facchi.
Por quê? Porque, tendo ele cumprimentado o capitão de uma das equipes, decidiu fazer o mesmo somente com o capitão da outra. O estender da mão em direção a Francesca teria sido um lapso, um engano, e, ao perceber isso, ele desistiu.
Quem assiste ao vídeo sem atenção aprofundada depreende que Facchi saudou o assistente Palermo e, desse modo, deveria fazer o mesmo com a assistente Francesca.
Só que o árbitro não cumprimentou o bandeirinha, então esse argumento deixa de existir para justificar misoginia com a bandeirinha.
Facchi, sem dúvida, foi extremamente deselegante e grosseiro com Francesca, o que é desprezível, mas agiu conforme uma lógica, não constituindo portanto ação deliberadamente sexista.
A AIA, de acordo com a agência de notícias Ansa, que citou fontes da associação de árbitros, teve o mesmo entendimento.
“Podemos descartar que esse tenha sido um gesto sexista ou de desprezo pessoal. Foi apenas um gesto involuntário que foi mal interpretado. (…) O que é surpreendente é que se fale de sexismo em uma associação que fez da derrubada das barreiras de gênero uma das suas maiores conquistas.”
Não deixa de ser estranho, contudo, que um dos principais personagens da polêmica, passados dias do acontecido, mantenha-se em silêncio.
Sacchi não emitiu comentário acerca do episódio com Francesca (que também não se manifestou), dando margem à ilação de que incorreu em misoginia.
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