Ao menos 14 corpos foram encontrados na manhã desta segunda-feira (18) em Pétionville, uma das áreas relativamente mais abastadas próximas capital do Haiti, Porto Príncipe.
Ainda não há informações sobre as circunstâncias em que essas pessoas morreram. Desde as primeiras horas desta segunda, homens armados aterrorizam Laboule e Thomassin, dois bairros do subúrbio, onde atacaram um banco, um posto de gasolina e várias residências.
Entre as casas saqueadas está a de um juiz do Tribunal de Contas do Haiti, Pierre Volmar Demesyeux, que conseguiu escapar do imóvel graças à intervenção da polícia.
A empresa de fornecimento de energia elétrica do país afirmou ainda que várias estações foram atacadas e que cabos, baterias e documentos foram roubados.
O país caribenho vem sofrendo desde o início do mês uma agudização da onda de violência, quando várias gangues se aliaram para atacar locais estratégicos de Porto Príncipe em uma batalha contra o primeiro-ministro Ariel Henry.
O líder, amplamente questionado tanto no Haiti quanto pela comunidade internacional, anunciou sua renúncia há uma semana e a criação de um conselho presidencial de transição para substitui-lo.
As negociações para formação do órgão de sete integrantes, que será dividido entre forças políticas e a sociedade civil, ainda não chegaram a uma conclusão, e o país, na prática, segue sem direção enquanto a onda de insegurança cresce.
O Pitit Dessalines, um dos partidos que deveria fazer parte do grupo, retirou sua filiação, e a agremiação vinculada ao primeiro-ministro não conseguiu chegar a um acordo para indicar um candidato único.
Nesta segunda, os Estados Unidos disseram esperar que o novo órgão seja implementado o mais breve possível. “Meu entendimento é que as partes interessadas haitianas estão muito próximas de finalizar a composição”, afirmou Vedant Patel, porta-voz do Departamento de Estado.
Em meio à violência, o governo americano decidiu organizar um voo para retirar 30 de seus cidadãos do Haiti. O avião partiu da segunda maior cidade do Haiti, Cap-Haitien, já que o aeroporto da capital permanece fechado em razão dos ataques das gangues.
Trata-se da segunda ação dos EUA para retirar cidadãos americanos do país em uma semana. No dia 10 deste mês, as Forças Armadas americanas disseram ter feito uma operação para retirar funcionários não essenciais da embaixada em Porto Príncipe e reforçaram a segurança do local.
Enquanto aguarda uma transição política, o Haiti sofre com uma crise longeva e insegurança constante. O Quênia, que se comprometeu a enviar policiais para liderar uma missão de segurança internacional supervisionada pela ONU, suspendeu sua intervenção até que as novas autoridades assumam o governo.
ONU anuncia início de ponte aérea entre Haiti e República Dominicana
Na tarde desta segunda-feira, o Conselho de Segurança da ONU realizou uma reunião a portas fechadas sobre o assunto. A organização anunciou pouco antes o início de uma ponte aérea entre o país e a vizinha República Dominicana para levar ajuda humanitária.
“No momento, esses são apenas os primeiros voos, mas esperamos que haja um movimento mais regular de helicópteros para melhorar o acesso a Porto Príncipe”, disse Farhan Haq, porta-voz adjunto do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Por sua vez, a chefe do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Catherine Russell, havia alertado sobre a catástrofe humanitária no Haiti.
“Muitas pessoas estão sofrendo de fome e desnutrição e não conseguimos dar a elas a ajuda de que precisam”, disse ela em uma entrevista ao canal americano CBS. “É a pior situação que já vimos em décadas. É quase como uma cena do filme ‘Mad Max'”, acrescentou.
O Unicef afirmou que um de seus 17 contêineres com ajuda humanitária no principal porto do Haiti, abastecido com “itens essenciais para a sobrevivência materna, neonatal e infantil”, foi saqueado.
Segundo a agência, a violência está causando níveis recordes de fome e desnutrição com risco de vida em partes da capital, e três em cada quatro mulheres na área de Porto Príncipe não têm acesso a cuidados básicos de saúde e nutrição.
De acordo com a Organização Internacional para Migração (OIM), o número de pessoas deslocadas na área metropolitana de Porto Príncipe aumentou em 15% desde o início do ano. Na capital, 160 mil pessoas não podem voltar para suas casas.