Um antigo rival de Hugo Chávez foi inscrito quase à meia-noite de segunda-feira (25), pouco antes do fim do prazo para o registro de candidaturas, para enfrentar o ditador Nicolás Maduro nas eleições na Venezuela, depois que a principal coalizão opositora denunciou que foi impedida de incluir seu candidato na disputa.
O partido UNT (Um Novo Tempo), uma das legendas que integra a coalizão opositora Plataforma Unitária, registrou o nome de Manuel Rosales como candidato para as eleições presidenciais de 28 de julho, confirmou o presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), Elvis Amoroso. “Fizeram isso por via automatizada”, disse.
Rosales, 71, é governador de Zulia, um estado de grande produção de petróleo na fronteira oeste com a Colômbia. Ele enfrentou Hugo Chávez (1954-2013) nas eleições presidenciais de 2006, quando o líder socialista estava no auge da sua popularidade.
Minutos antes do anúncio do registro de Rosales, a Plataforma Unitária denunciou que “nunca” teve acesso ao sistema de candidaturas em uma plataforma online do CNE desde que o processo foi aberto, na quinta-feira da semana passada.
Maduro, que aspira o terceiro mandato presidencial, algo que o deixaria 18 anos no poder, registrou algumas horas antes sua candidatura com uma grande festa e sem nenhuma restrição.
A Plataforma Unitária desejava registrar a candidatura de Corina Yoris, indicada como substituta de María Corina Machado, que venceu com folga as primárias da aliança opositora no ano passado. Machado era favorita nas pesquisas, mas foi inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos.
“Informamos à opinião pública nacional e ao mundo que trabalhamos o dia todo, reunidos em sessão permanente, para tentar exercer o nosso direito constitucional de registrar nosso candidato e não tem sido possível. Não nos permitiram acessar o sistema de candidaturas”, afirmou o dirigente Omar Barboza em um vídeo divulgado pela coalizão opositora.
María Corina Machado e a Plataforma Unitária não se pronunciaram sobre a candidatura do governador.
Quase no fim do horário para o registro de inscrições, o ex-reitor eleitoral e ex-parlamentar Enrique Márquez apresentou sua candidatura como “independente”.
“A minha candidatura não tem nada a ver, por enquanto, com o apoio de qualquer partido da chamada Plataforma Unitária”, disse Márquez, que foi integrante da antiga Mesa da Unidade Democrática, substituída pela PUD, mas que depois criou seu próprio partido político.
“Isto é autônomo, sou um político independente”.
Vencer
Maduro chegou ao CNE acompanhado de militantes convocados pelo governista PSUV (Partido Socialista da Venezuela). Ele portava um cartaz com uma ilustração dos rostos do herói da independência Simón Bolívar e de Chávez.
Outra dezena de grupos ligados ao chavismo já haviam formalizado seu apoio ao presidente.
“Juro para vocês, em 28 de julho, dia do 70° aniversário do comandante Chávez, voltaremos a vencer”, afirmou o presidente em um palanque montado nos arredores do CNE após oficializar a sua candidatura.
Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru e Uruguai expressaram em um comunicado conjunto “preocupação com o impedimento do registro” de candidaturas da oposição.
O cientista político Jorge Morán declarou à AFP que, ao bloquear a Plataforma Unitária, o chavismo tentou repetir o cenário de 2018, quando a maior parte da oposição boicotou as eleições presidenciais, com uma convocação de abstenção e denúncias de fraudes.
Também se candidataram nove candidatos que se apresentam como opositores, mas em alguns casos foram rotulados de “escorpiões”, termo usado na Venezuela para nomear “colaboradores” do governo chavista
O CNE tem agora a última palavra sobre as candidaturas. Amoroso disse que os nomes aprovados para a disputa serão anunciados na terça-feira.
Maduro denunciou que dois homens armados que vinculou ao partido de Machado, “Vente Venezuela”, foram detidos depois que se infiltraram no comício do chavismo com o plano de assassiná-lo, o que o grupo político opositor chamou de “acusação infundada”. O Ministério Público anunciou que eles serão acusados de terrorismo e tentativa de assassinato.
Sete dirigentes do partido foram detidos nos últimos dias e o MP emitiu ordens de captura contra outros sete.