Um novo relatório das Nações Unidas revela que o continente africano aqueceu cerca de 0,3º C mais rápido do que a média global das décadas entre 1991 e 2023.
O Estado do Clima na África da Organização Meteorológica Mundial, OMM, aponta que esse fator justifica que grande parte da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, COP29, se concentre em como as economias industrializadas devem contribuir para ajudar às mais pobres a se adaptarem às mudanças climáticas. O evento está agendado para novembro no Azerbaijão.
Condições climáticas provocadas pela seca
Entre setembro e outubro do ano passado, a África teve cerca de 300 mil afetados por inundações em 10 países. Nações como Níger, Benim, Gana e Nigéria foram as mais impactadas pela situação.
Angola está entre os países lusófonos citados na análise por causa das anomalias registradas nas chuvas e as ondas de calor que atingiram acima de 10 eventos durante o ano passado. No entanto, as condições climáticas provocadas pela seca no final da temporada não alteraram os níveis de produção e as colheitas de cereais estiveram acima da média de cinco anos.
Na Guiné-Bissau, a estação chuvosa de monções começou mais cedo e foi caracterizada por condições consideradas médias ou acima do normal.
A passagem do ciclone Freddy por Moçambique e o retorno da tempestade provocou mais de 165 mortes no país e no vizinho Maláui. Os ciclones e déficits de chuvas causaram grandes danos às colheitas, destaca o relatório.
Nações que registraram seca severa
Outros fenômenos que marcam o ano passado foram inundações que atingiram a Líbia e partes da África Oriental. A Zâmbia enfrentou a pior seca em 40 anos, afetando cerca de seis milhões de pessoas e outras nações observaram condições severas.
Para a comissária de Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Meio Ambiente Sustentável na Comissão da União Africana a África “enfrenta fardos e riscos desproporcionais devido aos eventos padrões do clima relacionados às alterações.
Falando na apresentação do estudo em Abidjan, Josefa Correia Sacko listou “enormes crises humanitárias com choques danosos em setores como agricultura, segurança alimentar, educação, energia, infraestrutura, paz e segurança, saúde pública, recursos hídricos e desenvolvimento socioeconômico geral”.
A OMM aponta ainda extremos climáticos, incluindo inundações e secas com um grande impacto na segurança alimentar. As perdas dos países africanos situam-se entre 2% e 5% do Produto Interno Bruto e muitos governos “estão desviando até 9% dos orçamentos de resposta a extremos climáticos”.
Menos de US$ 1,90 diários
O estudo adverte que se ainda nesta década não forem tomadas e implementadas medidas adequadas até 118 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia estarão expostas à seca, às inundações e ao calor extremo na África.
As autoridades receiam que essa situação solicite mais esforços para a redução da pobreza e prejudique de forma significativa o crescimento.
O relatório da agência da ONU destaca ainda a urgência de se investir no aperfeiçoamento da coleta, previsão de dados e sistemas de alerta precoce.
De acordo com a OMM, entre 1970 e 2021 a África registrou 35% das mortes relacionadas ao clima e à água. No entanto, apenas 40% da população da região tem acesso a sistemas de alerta precoce, a menor taxa do mundo.