Um dos sonhos mais antigos da humanidade é aventurar-se nas estrelas. Desde tempos remotos, ansiamos por navegar na imensidão do Cosmos, pôr nossos pés em outros planetas e entrar em contato com outras formas de vidas inteligentes pelo Universo.
No entanto, tão antigo quantos estes sonhos são as frustrações impostas pela dura realidade das nossas limitações tecnológicas e das leis naturais. Os astronautas da Apollo – até então, as únicas missões tripuladas a outro corpo celeste até agora – levaram mais de três dias para chegar à Lua.
Viajando na mesma velocidade, seriam necessários mais de cem mil anos para chegar ao sistema de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol.
A vizinhança estelar do Sol. Proxima Centauri é a estrela vermelha ao centro.Fonte: David Malin, UK Schmidt Telescope, DSS, AAO
É possível imaginar avanços significativos na tecnologia de propulsão que poderiam aumentar essa velocidade para uma taxa mais robusta. Mas mesmo assim, dificilmente sairíamos da ordem dos milhares de anos no tempo para concluir esta viagem.
Contudo, lembre-se: isso vale para a estrela mais próxima do Sol. Como poderíamos, então, pensar em viajar para sistemas estelares mais distantes e até mesmo outras galáxias?
Se você está pensando que seria necessário um novo Albert Einstein para desenvolver tal método, você não está inteiramente equivocado. Foi, na verdade, o próprio fundador da Teoria da Relatividade quem primeiro imaginou a existência de atalhos espaciais que poderiam tornar possíveis as viagens interestelares.
A presença de matéria distorce o tecido do espaço-tempo.Fonte: NASA
Esses atalhos foram chamados de pontes de Einstein-Rosen, mas ficaram popularizados como buracos de minhoca. Propostas pela primeira vez em um famoso artigo de 1935, Einstein e seu assistente, Nathan Rosen, impuseram à abordagem padrão da relatividade geral um limite extremo: como é bem conhecido hoje, aglomerados de matéria e energia “pesam” sobre a estrutura do espaço-tempo, distorcendo-o e fazendo com que outros objetos se desviem no seu caminho.
Em outras palavras, a matéria distorce a geometria do espaço-tempo, que, por sua vez, orienta o deslocamento da matéria.
Na busca por uma Teoria de Tudo que modelaria todo o Universo, incluindo o seu conteúdo, Einstein procurou soluções matemática para as equações da relatividade geral que se assemelhassem a partículas. O que ele e Rosen descobriram, então, foram conexões semelhantes a pontes entre partes distintas do tecido cósmico.
Representação artística de um buraco de minhoca.Fonte: GettyImages
Essas pontes, entretanto, só vieram a ser pensadas como possibilidade de meios para viagens interestelares muitos anos mais tarde, no final da década de 1980, quando o físico Kip Thorne começou a explorar este potencial.
A motivação de Thorne deu-se através de uma pergunta de Carl Sagan: enquanto trabalhava no seu famoso romance best-seller Contato, Sagan precisava de um enredo que permitisse uma jornada transgaláctica veloz e eficaz.
Ele pensou nos buracos de minhoca de Schwarzschild gerados em buracos negros, mas Thorne o convenceu de que eles não funcionariam. Mesmo que pudessem de alguma forma ser estabilizados, as conexões dos buracos negros esmagariam e irradiariam os viajantes.
Algum tempo depois, Kip Thorne e seu estudante de doutorado, Chris Morris, descobriram uma solução de um buraco de minhoca com muitas propriedades favoráveis: permitia a passagem entre duas partes diferentes do espaço através de uma espécie de “garganta” estável que não entraria em colapso quando os viajantes passassem.
Os viajantes poderiam percorrer com segurança de uma ponta a outra num período de tempo razoável – algo como menos de um ano. Sagan incorporou de imediato o esquema de Morris e Thorne em sua trama.
Impressão artística de um astronauta ao longo de um buraco de minhoca.Fonte: GettyImages
O desenvolvimento destas soluções de buracos de minhoca, mesmo hipotéticas, desencadeou diversos estudos e artefatos culturais de ficção científica sobre viagens interestelares.
No entanto, como Morris e Thorne revelaram e inúmeros estudos posteriores confirmaram, construir buracos de minhoca iriam requerer um ingrediente que parece faltar à natureza: uma matéria de massa negativa que funcionaria como mecanismo estabilizador antigravitacional para ajudar a manter a entrada do buraco de minhoca aberta.
Mesmo que encontrássemos quantidades significativas de tal matéria exótica, seria necessário o equivalente a milhões de sóis em massa para construir um buraco de minhoca para conectar duas regiões distintas do Universo.
Viagens interestelares, no momento, continuam inteiramente fora de cogitação, porém, talvez algum dia essa fantasia de ficção científica se transforme em realidade e o Cosmos distante esteja finalmente ao alcance das nossas mãos.