A Quiet Place: The Road Ahead é um jogo de terror baseado na famosa franquia do cinema Um Lugar Silencioso. O game se passa no mesmo universo dos longas, mas em tempos distintos, e conta a história de novos personagens vivendo em uma Terra dominada por criaturas sensíveis ao som.
O jogo vem chamando atenção, principalmente, por proporcionar uma alta imersão, com direito a captação de som do seu microfone que pode alertar as criaturas dentro do game. Mas será que toda essa junção deu certo?
Confira no review completo do game realizado com uma cópia para PS5 cedida pela Saber Interactive.
Conflitos internos em meio ao que sobrou do mundo
Antes é preciso dizer que, se não fosse pela minha admiração pelos filmes, A Quiet Place: The Road Ahead poderia ser facilmente um game que eu deixaria de lado. Afinal, além de ter sido anunciado “recentemente”, mais precisamente em junho deste ano, na ocasião ele teve apenas um curto trailer e, posteriormente, nenhum amplo marketing de divulgação.
E para minha felicidade, o game surpreende demais e já adianto: não é exagero nenhum colocá-lo em Top 5 de listas como “melhores jogos de terror de 2024”, ou até mesmo “games mais divertidos do ano”. E ao longo desse texto explico em detalhes os diversos motivos.
História do game traz enredo digno de um filme da franquiaFonte: Reprodução / Diego Borges
Como dito anteriormente, o jogo se passa no mesmo universo dos filmes. Enquanto o primeiro Um Lugar Silencioso se passa no dia 473 após o início da invasão dos alienígenas, o jogo tem seu enredo principal ocorrendo entre os dias 110 a 130, e não tem uma ligação direta com nenhum deles, ou seja, ele conta com personagens distintos.
Você controla Alex, uma jovem cujo passado pode ter sido um tanto comum, mas que o presente é um grande pesadelo. Além de ter que conviver com o mundo silencioso por conta das criaturas, ela vive um romance durante o apocalipse. Em uma das andadas em busca de suprimentos, ela vê seu grande amor ser assassinado por um dos monstros, justamente no dia em que ela revelou a sua gravidez.
Por conta disso, Alex vive uma relação conturbada com Laura, que a vê como culpada pela morte de seu filho. E uma das medidas é fazer de tudo para que seu neto seja salvo, mesmo que isso acarrete em medidas drásticas, como prender a jovem em seu refúgio. Entretanto, pouco antes de uma invasão de criaturas, Alex consegue fugir com a ajuda de seu pai, e agora precisa sobreviver por conta própria em meio ao caos silencioso.
Imagine engravidar em um mundo caótico dominado por criaturas de outro planeta.Fonte: Reprodução / Diego Borges
E por mais que a história tenha ares de clichê, ela se desenrola de uma forma que facilmente poderia ser adaptada para um novo longa da franquia. Felizmente, ela acabou sendo encaixada em um jogo, o que na minha opinião deixa tudo ainda mais intenso, seja por conta das reviravoltas ao longo da trama, como pelos problemas e conflitos de Alex.
Por exemplo, ao longo da jornada, é preciso lidar com crises de asmas da personagem em momentos intensos, ou até mesmo em áreas com excesso de poeira. Darei mais detalhes adiante, mas é interessante frisar o quanto isso mexe com o jogador, principalmente por se tratar de um jogo tão tenso e realista. Sendo assim, ficaria feliz em ver, num futuro não tão distante, esse mesmo universo sendo explorado por outros personagens, e em outras datas.
É preciso jogar em “um lugar silencioso”
O trocadilho cai como uma luva para explicar um dos elementos mais divertidos do jogo. São diversos os games que recomendam o uso de acessórios para uma maior imersão, mas poucos fazem isso tão bem como A Quiet Place: The Road Ahead. Isso porque, assim como nos filmes, é preciso fazer silêncio até mesmo na hora de jogar, já que uma simples tossida, ou até mesmo algo caindo no chão, pode chamar a atenção das criaturas, e levar para uma iminente morte.
Criaturas escutam os barulhos de seu microfoneFonte: Reprodução / Diego Borges
Para isso, o jogo utiliza recursos do microfone de um headset ou de um joystick, como no caso do DualSense do PS5, versão na qual foi feita a análise. Quem diria que aquele microfone distorcido e ineficaz do controle, que passa 99% do tempo desativado no meu videogame, daria uma das maiores imersões que vivi nos últimos anos?
E por mais que você seja uma pessoa pouco corajosa, daquelas que se assusta facilmente, acredite, é muito divertido usar o recurso. Afinal, mesmo em níveis mais altos de dificuldade, fazer barulho não causa uma morte instantânea, mas chama atenção das criaturas. A partir daí, é preciso que você faça os “procedimentos de segurança”, que são sair de fininho da área, ou até mesmo arremessar algum item em outra parte do cenário para que elas avancem até o barulho criado.
É possível arremessar itens para desviar a atenção momentaneamente das criaturasFonte: Reprodução / Diego Borges
Porém, em momento onde a criatura está muito próxima, não há o que fazer, apenas torcer para que nada em sua casa faça barulho o suficiente. No meu caso, vivenciei a passagem de uma ambulância, e dos uivos dos meus cães, em um momento onde fugia de uma criatura há poucos metros de distância. E embora tenha sido frustrante ter que revisitar todo o local para fugir dela, ao mesmo tempo foi divertida a situação que, se tivesse sido filmada, estaria sendo usada como meme.
Além do recursos de microfone, há outros de grande importância no jogo, como a precisão para usar os direcionais para abrir portas, janelas, gavetas, etc. No DualSense, a experiência foi satisfatória, ao ponto de sentir pequenas dores no polegar diante de tamanha tensão para abrir caminhos sem fazer barulho. E acredite, se há algo que chama atenção dos monstros no jogo são esses malditos barulhos.
Portas e janelas nunca fizeram tanta barulho em um jogoFonte: Reprodução / Diego Borges
Estratégia em meio a furtividade
A jogabilidade do game basicamente consiste em fugir das criaturas, e ao mesmo tempo encontrar itens, caminhos, ou pessoas. Para isso, você conta com uma série de mecânicas, sendo a principal dela o controle das crises de asma da personagem. Basicamente a bombinha de asma é as pílulas são os elementos mais importantes, já que com eles, é possível diminuir o estresse de Alex, e assim se recompor e não chamar a atenção com seus fortes batimentos cardíacos.
Além desses momentos de tensão, há outras situações também muito bem apresentadas, como áreas em que há poeira em excesso e que também atacam a asma da personagem, forçando o uso de bombinhas, que provavelmente você iria utilizar na hora de fugir de uma criatura. E para se prevenir dos ataques, você também tem uma bugiganga que serve para medir o nível de barulho que você faz utilizada na mesma mão que a lanterna.
E por falar em lanterna, ela tem um funcionamento similar ao da luz da câmera de Outlast 2. Servem para iluminar áreas mais escuras, e possuem uma duração um tanto questionável, ou seja, alguns segundos. Entretanto, ao contrário do aparelho para medir som, ela é essencial para enxergar poças, armadilhas, ou itens pelo caminho que possam vir a fazer barulho.
A lanterna é vital no jogo, mas sua duração é muito curtaFonte: Reprodução / Diego Borges
E é nesse momento que vem o primeiro ponto a ser criticado no jogo: o comportamento desses objetos. Há baldes, latinhas, e outros itens, pintados de vermelho, que ao serem tocados fazem barulho o suficiente para chamar atenção das criaturas. Esbarrar em um deles é normal, ainda mais quando são pequenos. Porém, o comportamento do toque gera alguns bugs que podem interferir diretamente no seu progresso.
Por exemplo, em uma área de acampamento, acabei esbarrando em uma latinha, que por sua vez quicou mais do que deveria, fazendo com que eu acabasse morrendo diante do barulho que não cessava. O mesmo ocorreu com um balde que, mesmo dentro de um quarto, agia como se fosse um sino. Se isso foi feito de forma proposital no jogo eu não sei, mas acabou fugindo muito da realidade.
Latas e outros itens possuem um comportamento estranho no jogoFonte: Reprodução / Diego Borges
Visual aceitável e efeitos sonoros imersivos
O visual de A Quiet Place: The Road Ahead não é um dos mais realistas, mas ao mesmo tempo não é nada que tire a imersão que o jogo se propõe a criar. Em outras palavras, há momentos de se elogiar, como na reprodução das criaturas no jogo, principalmente nas cutscenes que mostram elas mais de perto e com mais detalhes.
Já os cenários e a ambientação do jogo poderiam ser mais detalhados. Em locais como florestas, parques, e outros locais com vegetação alta, é tudo muito parecido, o que pode causar um certo desconforto. Se o game não fosse tão linear, me arriscaria a dizer que os jogadores poderiam facilmente se perder em meio a caminhos tão similares.
Já os efeitos sonoros, como era de se imaginar, são um show à parte. Toda a atmosfera sonora do jogo, desde os barulhos desconhecidos, até o ranger dos monstros ao seu redor, é muito bem construída. Além disso, a dublagem do jogo, embora não esteja em português, também dá a sensação de estar interagindo com um filme, principalmente em diálogos mais intensos.
As criaturas do jogo são muito bem reproduzidasFonte: Reprodução / Diego Borges
Pequenos deslizes impedem o game de voar mais alto
Como dito anteriormente, A Quiet Place: The Road Ahead pode facilmente figurar alguns Top 5, mas a sensação é de que o jogo poderia ir mais longe. O problema é que ele acaba cometendo pequenos deslizes que impedem que ele brilhe mais do que deveria. O principal deles é a duração do jogo. Mesmo em dificuldades mais altas, é possível completá-lo facilmente em menos de 8 a 10 horas, o que hoje em dia é considerado muito curto para um jogo comum por muitos gamers. No entanto, vale ressaltar que o título chegou custando valores partindo de R$ 99,90, bem abaixo dos padrões de grandes lançamentos da indústria.
E um dos motivos é justamente ele ser linear demais. Tirando os momentos em que é preciso esperar pacientemente para fugir de criaturas perto de você, é impossível se perder ou ficar sem saber para onde seguir no game. Mesmo sem usar as dicas, que sinalizam na tela a direção na qual você deve seguir, é tudo muito óbvio.
Jogo não traz grandes desafios além de fugir das criaturasFonte: Reprodução / Diego Borges
Por exemplo, em todos os lugares para onde você vai há dezenas de portas fechadas e uma ou duas abertas. Além disso, na maioria do tempo, você precisa revisitar esses poucos lugares disponíveis, seja voltando com uma chave ou uma tábua para prosseguir na campanha. E nos momentos em que você é pego por uma das criaturas, não há muito o que temer, já que você voltará a uma distância curta, já que o respawn do game é sempre muito próximo.
Por fim, há poucos elementos que fazem com que você queira revisitar o jogo depois de terminá-lo, como diversos finais diferentes, etc. Há até um sistema de itens colecionáveis, que incluem ônibus espaciais de brinquedo e fitas cassete. Mas a única finalidade deles, além de desbloquear troféus/conquistas, é ganhar créditos, que por sua vez permitem adquirir modelos tridimensionais dos personagens, ou artes conceituais.
Vale a pena?
A Quiet Place: The Road Ahead é um dos jogos de terror mais divertidos e imersivos que joguei nos últimos tempos, sendo obrigatório para os fãs do gênero, principalmente nesse período às vésperas do Halloween. O game utiliza tão bem os recursos de áudio que vale a pena jogá-lo com um headset, ou com um microfone ativado.
Já a sua história poderia ser facilmente usada em um dos filmes da franquia, trazendo todos os elementos que a consagraram, como tensão e reviravoltas. Se não fosse a sua curta duração e alguns deslizes na jogabilidade, ele poderia facilmente figurar nas listas de melhores jogos do ano, principalmente em 2024, que a cada mês somos surpreendidos com um novo candidato a GOTY.
Nota final: 90
Pontos positivos (prós):
- Roteiro digno de um filme da franquia;
- Jogabilidade utiliza muito bem recursos externos de áudio;
- Clima de tensão do início ao fim;
- Divertido até para os menos corajosos;
- Visual não deixa a desejar.
Pontos negativos (contras):
- Bugs em elementos do cenário que te prejudicam;
- Ambientes muito lineares;
- Poderia ser mais longo;
- Colecionáveis dispensáveis.
A Quiet Place: The Road Ahead já está disponível no PC, PS5 e Xbox Series S/X por preços que partem de R$ 99,90. Uma cópia do game para o console da Sony foi cedida pela Saber Interactive para a realização desta review.