De uma hora para outra o governo brasileiro viu-se metido em duas saias justas na América Latina. Uma com o governo bolivariano da Venezuela. Outra, que tem cheiro de operação casada, com a ditadura sandinista da Nicarágua, que expulsou o embaixador Breno de Souza da Costa.
A tendência de governos esquerdistas para arrumar brigas com eventuais aliados é histórica. Nos primeiros anos da revolução cubana Fidel Castro encrencava com o democrata Rómulo Betancourt, da Venezuela.
O piti do ditador Daniel Ortega pode ser ignorado, pois as relações com a Nicarágua são desprezíveis. Já com a Venezuela há interesses em jogo e entendimentos passados.
Nicolás Maduro joga com o fator tempo e até agora prevaleceu. O pior que pode acontecer ao Brasil é entrar num jogo de perde-ganha, no qual sua diplomacia sairá derrotada se o ditador venezuelano continuar na cadeira.
Vale a pena lembrar uma lição do embaixador Ítalo Zappa (1926-1997). Ele era chefe de gabinete do chanceler e, diante de uma controvérsia diplomática, perguntaram-lhe: Quem ganhou?
Zappa respondeu: “Ganhar ou perder é coisa do prédio ao lado. (Naquele tempo, o Itamaraty funcionava ao lado do Ministério do Exército.) Diplomata é um funcionário encarregado de defender os interesses do Estado. Quando ele faz isso, nada lhe custa dizer que perdeu. Não se incomoda se a outra parte, tendo cedido, diz-se vitoriosa. Nossa profissão é trazer para casa o interesse nacional. Ganhar ou perder, nas relações internacionais, não é coisa de diplomatas”.
Em 1903, quando o Barão do Rio Branco negociou com a Bolívia a anexação do Acre, Rui Barbosa acusou-o de ter cedido demais.
Rio Branco ficou calado.
Francis e Ortega
A cada passo do nicaraguense Daniel Ortega transformando-se num ditador de caricatura, cresce a admiração pela implicância intuitiva do jornalista Paulo Francis (1930-1997).
Ele começou a aporrinhar Ortega quando o chefe sandinista foi a Nova York, entrou numa loja chique e comprou um par de óculos de grife. À época Ortega era um queridinho dos viúvos do Che Guevara.
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