Uma das notícias que tiveram destaque (não grande) na mídia esportiva no período que antecedeu a Copa do Mundo de 2022 foi a do recorde no valor de uma transferência no futebol feminino.
Para tirar do Manchester City a volante Keira Walsh, 25, da seleção inglesa, o Barcelona pagou £ 350 mil (R$ 2,21 milhões).
O fato, ao mesmo tempo em que registrou um enorme salto na maior transação do futebol feminino –a anterior era de £ 250 mil, em 2020, quando o Chelsea comprou do alemão Wolfsburg a meia-atacante dinamarquesa Pernille Harder, hoje com 30 anos –, voltou a expor o tamanho do abismo dele para o futebol masculino, em termos financeiros.
Com os £ 350 mil libras que pagou para ter em suas fileiras a talentosa meio-campista inglesa, titular da seleção campeã europeia no ano passado, o Barcelona poderia pagar apenas uma semana do salário de Mohamed Salah, 30, atacante egípcio do Liverpool. Sete dias.
E Salah nem é o futebolista mais bem remunerado. Ganham mais que ele, por exemplo, Haaland (Manchester City), De Gea (Manchester United) e o trio Neymar, Messi e Mbappé, todos do Paris Saint-Germain.
Neymar, para lembrar, ainda é o detentor do maior valor de uma negociação no futebol. Em 2017, o PSG desembolsou € 222 milhões (1,24 bilhão no câmbio atual) para que ele pudesse deixar o Barcelona.
A diferença é abissal. Com o valor pago por Neymar seria possível comprar Keira Walsh 560 vezes.
É uma diferença que tende a ir diminuindo, mas muito aos poucos, a conta-gotas, já que o futebol feminino encontra-se por demais distante do masculino no interesse, no patrocínio, na bilheteria, no merchandising, na exposição nos meios de comunicação.
Craques entre elas não faltam, mas faltam-lhes vitrines, prestígio, reconhecimento, atenção, investimento, fama.
Você sabia que tem Copa do Mundo feminina neste ano? (Sim, tem.) Sabe quem é a atual campeã? E a maior campeã? (EUA e EUA.) Conhece alguma jogadora da seleção brasileira além da Marta? (Tem a Debinha, que é ótima.) Sabe quantas vezes a Marta foi eleita a melhor do mundo? (Seis, um recorde.)
A ampla maioria das pessoas, mesmo as que gostam de futebol, não consegue responder a essas questões, que não são tão difíceis.
Talvez quando souberem quem é Keira Walsh (você sabia até ler este texto?), sua nacionalidade, sua posição, em que time ela jogava e passou a jogar, suas conquistas, e que ela é dona de uma cadelinha Terrier, o futebol feminino galgue alguns degraus mais rapidamente.
Neymar, Messi, Haaland, Salah e outras figuras badaladas do futebol masculino… quase todo mundo sabe onde eles jogam ou jogaram, como jogam, em que país nasceram, se vai ter jogo no campeonato local ou na Champions para vê-los em ação.
Todos sabem quando tem Copa masculina, quem é o atual campeão, quem ganhou mais vezes, quais os principais jogadores da seleção brasileira.
Sabem porque sempre se falou sobre isso, e fala-se com regularidade e frequência.
A igualdade entre os gêneros é desejável e uma meta a ser atingida em todas as áreas.
No futebol, entretanto, ela é uma meta que se apresenta como inalcançável a curto e até mesmo a médio prazo. Coisa para algumas, talvez muitas, gerações.
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