É para ficar boquiaberto. Pep Guardiola, um dos melhores treinadores do planeta, quiçá o melhor, perdeu quatro jogos seguidos.
Isso dirigindo o poderoso Manchester City, atual tetracampeão da Premier League (o Campeonato Inglês).
É algo inédito na carreira do técnico espanhol de 53 anos, iniciada 16 anos atrás no Barcelona. Um marco. Caso para análise e tentativa de entendimento.
O Man City perdeu no Tottenham por 2 a 1 no dia 31 de outubro, em Londres, sendo eliminado da Copa da Liga Inglesa. Neste mês, no dia 2, em Bournemouth, pelo Inglês, caiu ante o time da cidade, por 2 a 1; no dia 5, tomou uma surra (4 a 1) do Sporting, em Lisboa, pela Champions League; no dia 9, em Brighton e Hove, levou uma virada do Brighton (2 a 1), pelo Inglês.
Surpreendente. Treinadores de ponta, e estando em clubes de ponta, muito dificilmente perdem três partidas consecutivas. Quatro são uma aberração.
Cito exemplos.
Carlo Ancelotti, 65, do Real Madrid, que atua como treinador desde 1996 e é o atual detentor da Bola de Ouro de melhor técnico do mundo, jamais esteve nessa situação. Nem quando dirigiu equipes de menor destaque, como as italianas Reggiana e Parma.
As piores sequências do italiano Carletto (três derrotas em série) foram pelo Milan, uma vez (2002), e pelo Everton, da Inglaterra, duas vezes (uma em 2020, outra em 2021).
No Real Madrid (2013 a 2015 e desde 2021), nunca; na Juventus (1999 a 2001), nunca; no Chelsea (2009 a 2011), nunca; no Paris Saint-Germain (2013 a 2015), nunca; no Bayern de Munique (2016 e 2017), nunca; no Napoli (2018 e 2019), nunca. No máximo, duas quedas seguidas.
O alemão Jürgen Klopp, 57, de muito sucesso no Liverpool e em pausa na carreira de mais de duas décadas, vivenciou três vezes pelos Reds sequência de três derrotas (em 2017, em 2021 e em 2023) e uma vez, em 2010, pelo Borussia Dortmund.
Em seus primórdios com a prancheta, no pequeno Mainz, perdeu sete partidas em série. Isso quase 20 anos atrás.
No Brasil, o mais conceituado treinador é Abel Ferreira, 45, do Palmeiras. O português perdeu quatro jogos consecutivos? Sim, uma vez. Pelo time B do Braga, em 2016.
No alviverde paulistano, o recorde negativo, registrado uma única vez, são três derrotas seguidas (Fluminense, São Paulo e Fortaleza), em novembro de 2021, pelo Campeonato Brasileiro.
As estatísticas deste texto consideram partidas válidas por campeonatos –amistosos não entram– e os resultados do tempo normal e de prorrogações –disputas de pênaltis não entram.
É possível estabelecer razões para o péssimo momento de Guardiola com o Man City? Sim, duas: lesões e ineficiência técnica.
Há a ausência de alguns jogadores por contusão, como Rodri, De Bruyne, Grealish, Stones, Akanji, Rúben Dias, Aké.
O espanhol Rodri é o melhor volante do mundo, e o belga De Bruyne, um dos melhores meias, ótimo condutor de bola e finalizador, rei nas assistências. Os outros quatro, todos jogadores de seleção, são zagueiros, revezando-se na titularidade.
Aliado a isso, o ataque perdeu força: fez apenas um gol em cada uma das derrotas –a média do time no Inglês é de dois por partida e na Champions, de 2,5. O centroavante Haaland, estrela da companhia, desperdiçou chances, incluindo pênalti diante do Sporting.
Por fim, a defesa andou falhando: estava intacta na Champions até a goleada em Portugal e, no âmbito nacional, levar dois gols por partida é número elevado para o padrão de eficiência da retaguarda dos Citizens.
O recorde negativo de reveses de Guardiola significa, na prática, a eliminação em uma Copa, o atual décimo lugar na nova Champions (entre 36 participantes) e uma distância de cinco pontos para o líder Liverpool (28 a 23) na Premier League.
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