A Folha publica a partir de hoje a série “Na frente russa”, com reportagens produzidas durante uma viagem à zona de guerra das regiões anexadas por Vladimir Putin em 2022 na Ucrânia.
A reportagem viajou cerca de 3.500 km para recolher relatos de moradores, militares e autoridades em Donetsk, Zaporíjia, Kherson e na Crimeia —esta uma área que já estava sob controle russo desde a anexação de 2014.
O objetivo da série é tentar jogar luz sobre aspectos menos conhecidos do conflito, o que por evidente não significa apoio a qualquer lado da guerra.
Tanto a invasão quanto a anexação são consideradas ilegais pela ONU, que não reconhece a soberania de Moscou na região. O Brasil condenou a guerra, mas rejeita sanções contra a Rússia.
Raramente o governo russo concede autorização para jornalistas ocidentais viajarem à região, e a visita da Folha não foi guiada ou em grupo de repórteres, como costuma ocorrer nesses casos.
A reportagem foi de carro de Moscou a Donetsk, e dali até a Crimeia, com a ajuda de voluntários da Igreja Ortodoxa Russa. A viagem foi custeada pelo jornal.
Toda a região é uma zona de guerra, e diversos imprevistos ocorrem nessas circunstâncias. Em uma ocasião, a reportagem teve de deixar o usual colete à prova de balas e capacete azuis, com identificação de imprensa, e envergar material camuflado para não chamar a atenção.
Isso não é recomendável, pois o equipamento poderia ser confundido com o dos militares russos, mas era a única forma de receber o salvo-conduto em um ponto da linha de frente em Donetsk. A região hoje é o foco das operações russas na guerra, palco dos maiores avanços desde a invasão de 2022.
Passar pelas estradas implica riscos adicionais de ataque com drones ucranianos e as onipresentes minas antitanque, que estão a céu aberto em quase toda a linha de frente, esperando veículos incautos.
A viagem foi encerrada, após sete dias iniciados em 27 de outubro, com a chegada a Simferopol, a capital da Crimeia, de onde a Folha voltou a Moscou de trem, um trecho de cerca de 1.700 km completado em excruciantes 38 horas.