O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está pronto para discutir a Guerra da Ucrânia com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, mas isso não significa que ele está disposto a alterar as demandas de Moscou, disse o Kremlin nesta sexta-feira (8).
As declarações são do porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, questionado na entrevista coletiva que dá diariamente sobre a possibilidade de mudança nas exigências da Rússia.
“O presidente nunca disse que os objetivos da operação militar especial estão mudando. Pelo contrário, ele repetidamente disse que eles permanecem os mesmos”, disse Peskov, usando o termo que a Rùssia usa para se referir ao conflito.
“Tudo isso diz respeito aos interesses de segurança de nosso país, aos interesses de segurança do povo russo que vive lá. Portanto, não houve conversa sobre quaisquer mudanças”, continuou.
Em junho, Putin estabeleceu seus termos para o fim da guerra: a Ucrânia teria que abandonar suas ambições de entrar na Otan, aliança militar ocidental que apoia Kiev no conflito, e retirar todas as suas tropas das quatro regiões ucranianas reivindicadas pela Rússia.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, rejeitou os termos russos e, em outubro, apresentou um “Plano de Vitória” no qual reafirma as intenções de ingressar na Otan, pedindo mais apoio militar do Ocidente.
A vitória de Trump representa um revés para Kiev, que conta com apoio incondicional dos EUA desde o início da guerra, em fevereiro de 2022. O republicano, que costuma trocar elogios com Putin, criticou a escala do apoio militar e financeiro à Ucrânia durante a campanha e disse que poderia encerrar a guerra em 24 horas —algo que implicaria muitas concessões a Moscou, de acordo com críticos.
Após as eleições, Zelenski parabenizou Trump pela vitória, mas disse que não sabe como o americano planeja encerrar o conflito rapidamente. “Se for apenas rápido, significa perdas para a Ucrânia. Ainda não entendo como isso poderia ser de outra forma. Talvez não saibamos de algo”, disse ele na quinta-feira (7).
No mesmo dia, Putin também cumprimentou Trump e o elogiou por, segundo o russo, mostrar coragem quando um atirador tentou assassiná-lo em julho. Ele disse ainda que os comentários de Trump sobre tentar encerrar a guerra eram dignos de atenção.
Ainda não houve ligação entre os dois. À emissora NBC, Trump disse que não havia falado com Putin desde sua vitória, mas que provavelmente isso iria ocorrer. Questionado sobre uma possível chamada entre os dois, Peskov afirmou que ainda não havia nada concreto a relatar e que seria prematuro falar de qualquer melhoria nas relações entre Rússia e EUA.
A última vez que Putin falou com o atual presidente americano, Joe Biden, foi em fevereiro de 2022, dias antes do início da guerra, quando o democrata o alertou sobre uma resposta rápida e severa do Ocidente se ele invadisse o país vizinho.
No mês passado, o Kremlin negou que Trump havia falado com Putin desde que deixou o cargo. Dias antes, o lançamento do livro “War”, do jornalista americano Bob Woodward, havia revelado que os dois podem ter conversado até sete vezes desde que o republicano deixou a Casa Branca, segundo um assessor não identificado do agora presidente eleito.