O bacanal republicano na arena do Madison Square Garden, no domingo (27), produziu um momento viral que pode custar a Donald Trump a Pensilvânia, um dos sete estados-pêndulo que vão decidir a eleição do dia 5.
Quando um comediante disse, na abertura do comício do ódio, que Porto Rico é uma ilha de lixo flutuante, ele provocou pânico na campanha de Trump, especialmente porque a Pensilvânia abriga a maior população de origem porto-riquenha entre os sete estados.
Mas um outro momento sinalizou o risco que a democracia americana corre de 5 de novembro a 6 de janeiro, o dia em que o Congresso tabula os votos do Colégio Eleitoral, certificando o vencedor. É uma data que a invasão do Capitólio imortalizou numa galeria da infâmia na história do país.
Entre os grotescos discursos que precederam o do candidato e pornógrafo-chefe, o apresentador Tucker Carlson mostrou como a campanha vai reagir à derrota —possível— de Trump. As palavras de Carlson: “Vai ser muito difícil olhar para nós e dizer: Quer saber? Kamala Harris, ela obteve 85 milhões de votos porque é tão impressionante como a primeira ex-promotora samoana malaia e com baixo QI da Califórnia a ser eleita presidente.”
Trump e seus capangas repetem quase diariamente o insulto “baixo QI”. Carlson errou de propósito, orgulhoso racista que é, a origem étnica da candidata democrata, filha de uma indiana e de um jamaicano. Mas 85 milhões não é um número ao acaso. É um total realista dos votos que Kamala poderia obter. Trump recebeu 74,2 milhões de votos em 2020, contra os 81,2 milhões de Joe Biden.
Carlson estava avisando que, se os eleitores americanos escolherem livremente a mulher que ele desumaniza, os republicanos não vão conceder a derrota.
A tentativa de sabotagem da eleição já corre solta em vários estados com incêndios de urnas de votação, intimidação física de eleitores e processos de emergência na Suprema Corte para anular registros eleitorais. Tudo com o apoio do homem mais rico do mundo que, novas reportagens confirmam, envenenou o algoritmo do X, ex-Twitter, para propagar conteúdo político pró-Trump entre usuários e esconder publicações de membros democratas do Congresso.
Elon Musk colocou a plataforma que comprou a serviço de Trump e se mudou temporariamente para a Pensilvânia, de onde espalha desinformação e compra votos, como se o país não passasse de uma imensa Sucupira.
Musk será um importante agente de caos para contestar uma derrota de Trump. O bilionário, cujo comportamento reflete seu abuso notório de cetamina, já fez piada nervosa sobre uma vitória de Kamala: “De quanto tempo será a minha pena de prisão?”
É certo que medidas concretas foram implementadas desde que a multidão trumpista depredou o Capitólio. Uma lei de 2022 detalha as diferentes funções ao longo do processo eleitoral, com dispositivos visando evitar a bandalheira que Trump tentou para reverter as derrotas em vários estados, até fazer pressão criminosa para seu vice à época, Mike Pence, não certificar a vitória de Biden.
Mas o sistema não é à prova do incêndio autoritário que vem por aí. O presidente republicano da Câmara, Mike Johnson, liderou o esforço judicial para roubar eleições em quatro estados, em 2020. Agora, quando questionado, responde que só vai seguir a Constituição, no dia 6 de janeiro, “se a eleição for limpa”.
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