O papa Francisco partiu nesta segunda-feira (2) em uma viagem de 11 dias ao Sudeste Asiático e à Oceania, a mais longa e uma das mais complicadas de seu mandato. A viagem pode ser particularmente desafiadora para o pontífice de 87 anos, que está usando uma cadeira de rodas e enfrentando problemas de saúde.
Mas a viagem, que inclui uma parada na Indonésia —o maior país de maioria muçulmana do mundo— também sinaliza que ele não tem intenção de desacelerar sua tentativa de alcançar católicos distantes.
Francisco visitará quatro países em uma viagem que totaliza cerca de 32 mil km de avião. Da Indonésia, ele vai para Papua-Nova Guiné, depois para Timor Leste e Singapura, aprofundando seu compromisso com a Ásia, uma de suas prioridades.
A viagem incluirá mais de 43 horas em voos, além de reuniões com fiéis, clérigos e políticos locais em cidades com climas tropicais ou altos níveis de poluição.
“É um teste físico”, disse Massimo Faggioli, professor de teologia da Universidade Villanova, “e um sinal de que esse pontificado está longe de terminar”.
Por que ele está visitando esses países?
O papa escolheu quatro nações insulares para estender seu alcance ao que ele chama de periferias, um termo para lugares negligenciados e distantes com comunidades católicas pequenas, minoritárias ou perseguidas. A viagem também é um dos compromissos mais ousados de Francisco com a Ásia, uma parte do mundo que cresce rapidamente e que o papa sempre considerou como um objetivo estratégico.
Francisco fez um acordo com a China em 2018 para a nomeação de bispos, mas nem todas as questões foram resolvidas, pois Pequim ainda exerce forte controle político sobre a vida religiosa, disse o padre Gianni Criveller, teólogo e professor da Escola Missionária Internacional de Teologia, em Milão.
Embora nenhum papa tenha conseguido visitar a China, Francisco fez viagens à Mongólia, por exemplo, que basicamente o colocaram na porta da China. Desta vez também, disse Faggioli, a viagem é vista como uma tentativa de “falar com países aos quais ele não pode ir”.
A primeira parada do papa, na Indonésia, também reflete o compromisso de Francisco em promover o diálogo entre muçulmanos e cristãos. Ele foi o primeiro papa a visitar a Península Arábica, em 2019.
Também é provável que ele insista em uma ação global para proteger o meio ambiente, em uma parte do mundo que é particularmente vulnerável às mudanças climáticas, incluindo o aumento do nível do mar e ocorrência de eventos climáticos severos, como secas e tufões.
O papa está muito frágil para essa viagem?
Originalmente, o Vaticano havia considerado a viagem para 2020, mas a cancelou por causa da pandemia de coronavírus. Apesar de estar mais velho agora, o papa está empenhado em mostrar que, mesmo com sua idade e doenças, ele “ainda está vivo, embora alguns me quisessem morto”, como ele brincou uma vez.
Nos últimos anos, a saúde de Francisco tem sido uma fonte de preocupação. Em três anos, ele se submeteu a uma operação de hérnia, fez uma cirurgia no cólon e foi hospitalizado devido a uma infecção respiratória. No ano passado, ele não compareceu a uma reunião de cúpula em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, devido a problemas de saúde.
Ainda assim, o papa tem sido visto caminhando nas últimas semanas, em vez de usar uma cadeira de rodas, como tem feito cada vez mais.
Na viagem de 11 dias, ele será acompanhado por sua equipe médica (duas enfermeiras e um médico) e, pela primeira vez, por seus secretários. Matteo Bruni, porta-voz do Vaticano, disse que não foram tomadas precauções extras para essa viagem, pois as medidas que normalmente são adotadas foram consideradas suficientes. Ainda assim, o ambicioso itinerário do líder octogenário dos católicos romanos inevitavelmente gerou dúvidas sobre o impacto em sua saúde.
Os repórteres questionaram Bruni sobre a umidade de 92% que o papa enfrentaria em Vanimo, uma cidade situada entre a floresta tropical de Papua-Nova Guiné e o Oceano Pacífico. Markus Solo, um padre indonésio que se dedica ao diálogo inter-religioso no Vaticano, disse estar preocupado com o impacto que a alta poluição de Jacarta poderia ter, em parte porque Francisco perdeu parte de um pulmão devido a uma infecção quando era adolescente.