O mundo teve cerca de 733 milhões de pessoas passando fome em 2023, ou uma em cada 11, de acordo com o último Relatório sobre o Estado Global da Segurança Alimentar e Nutricional. A publicação foi apresentada nesta quarta-feira por cinco agências especializadas das Nações Unidas.
Os dados apontam que o mundo retrocedeu 15 anos no combate à fome, com níveis de subnutrição comparáveis aos de 2008-2009. O documento está sendo lançado no Brasil, no contexto do anúncio da Aliança Global do G20 contra a Fome e a Pobreza, aberta à adesão de outras nações que não são parte do bloco.
Lançamento no Brasil
O economista chefe da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, afirmou que a Aliança do G20 estabelecida no Brasil terá um “papel central” em uma “revolução” dos sistemas agroalimentares. Segundo Máximo Torero, esse foi o motivo do relatório ter sido lançado no país.
O levantamento mostra que ao contrário de outras regiões, a América Latina tem obtido sucesso na redução da fome. Segundo Torero, “Brasil, Colômbia, Peru e Chile dispõem de sistemas robustos de proteção social que permitem reagir rapidamente às mudanças e direcionar de forma eficiente os recursos financeiros disponíveis”.
Em um evento de pré-lançamento do relatório na sede da ONU em Nova Iorque, em 15 de julho, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, ressaltou a importância com que o relatório é encarado pelo Brasil, onde é popularmente chamado de “Mapa da Fome”.
“Serão comunicados os números atualizados da insegurança alimentar global e no mesmo dia iremos anunciar ao mundo o entendimento para a retomada com total prioridade dos ODS1 e 2, com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, na presidência do Brasil do G20”.
28,9% da população mundial enfrenta insegurança alimentar
Além dos dados da fome, o relatório revela que em 2023, cerca de 2,3 bilhões de pessoas, o que corresponde a 28,9% da população mundial, enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave, um número que não mudou desde 2020.
Entre essas pessoas, mais de 864 milhões experimentaram insegurança alimentar grave, ficando sem comida durante um dia inteiro ou mais.
Embora a América Latina mostre melhoria, persistem desafios mais vastos, especialmente na África, onde 58% da população vive insegurança alimentar moderada ou grave.
A falta de acesso a dietas saudáveis também continua a ser uma questão crítica, afetando mais de um terço da população global. Com novos dados sobre preços dos alimentos e melhorias metodológicas, a publicação revela que mais de 2,8 bilhões de pessoas não conseguiram pagar uma dieta saudável em 2022.
Abordagem multifacetada
Esta disparidade é mais pronunciada nos países de baixo rendimento, onde 71,5% da população não pode pagar uma dieta saudável, em comparação com 6,3% nos países de renda alta.
O tema do relatório, “Financiamento para Acabar com a Fome, a Insegurança Alimentar e todas as formas de Desnutrição”, sublinha que alcançar o ODS 2, sobre “Fome Zero”, requer uma abordagem multifacetada.
Isso inclui a transformação e fortalecimento dos sistemas agroalimentares, enfrentamento das desigualdades e garantia de preços acessíveis para que todos possam ter dietas saudáveis.
O estudo foi preparado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Fida, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, PMA e a Organização Mundial da Saúde, OMS.