Debate entre Trump e Biden é crucial para o presidente – 26/06/2024 – Lúcia Guimarães – EERBONUS
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Debate entre Trump e Biden é crucial para o presidente – 26/06/2024 – Lúcia Guimarães

Debates presidenciais pouco influenciam eleições nesta era de consumo difuso de informações. São, geralmente, lembrados por momentos, não pela substância dos argumentos. Pesa também hoje a polarização e o impulso identitário que levam eleitores a apoiar candidatos sem avaliar se suas agendas políticas os beneficiam. Dito isto, o debate com o criminoso condenado Donald Trump, nesta quinta-feira (27), pode ser o momento mais crucial dos 51 anos de carreira política do presidente Joe Biden.

O primeiro debate presidencial americano na TV contribuiu para decidir a eleição de 1964. O jovem boa pinta John F. Kennedy enfrentou o veterano casmurro Richard Nixon e talvez tenha selado ali seu caminho para a vitória naquele ano. Kennedy, o democrata, exalava confiança. Nixon, que havia recusado maquiagem no estúdio, começou a suar em bicas com o calor dos refletores.

Quem assistiu ao debate na TV concluiu que o atraente Kennedy venceu. Quem ouviu o debate pelo rádio concluiu que o experiente republicano Nixon foi mais sólido nos argumentos.

O próximo debate a ter peso numa eleição foi provocado pela renúncia do presidente Nixon, que estava prestes a ser indiciado pelo escândalo Watergate. Seu vice, Gerald Ford, assumiu o cargo e decidiu disputar a eleição de 1976 com um obscuro plantador de amendoins e governador da Geórgia.

Ford não era controverso, mas tinha fama de trapalhão adquirida por ter levado vários tombos que o tornaram preferido de comediantes. O democrata Jimmy Carter chegou em desvantagem, até que Ford escorregou num espantoso tombo verbal.

Ele disse: “Não há dominação soviética na Europa Oriental, e não haverá no meu governo”. Isso em plena Guerra Fria! O moderador do debate reagiu: “O quê???”. Não há como provar que o debate deu a vitória a Carter, mas certamente contribuiu para a narrativa do trapalhão.

Por que realizar o primeiro debate tão longe da eleição de 5 de novembro? Os debates geralmente são realizados a partir de setembro, depois das convenções partidárias que definem os candidatos, e quando os eleitores voltam das férias de verão.

As pesquisas anunciam uma eleição apertada, que pode ser decidida por apenas dezenas de milhares de votos, num país com mais de 161 milhões de eleitores. Biden e Trump, ambos impopulares, precisam da minoria de eleitores ainda indecisos e de conquistar os registrados como independentes, sem partido.

Biden é o mais prejudicado pela apatia e desinformação do eleitor. Ao final do primeiro mandato, ele tem mais realizações para vender do que seus antecessores democratas, Bill Clinton e Barack Obama, no mesmo período. No entanto, as pesquisas mostram que, em economia, a maioria dá vantagem ao errático Trump. O debate seria uma chance de Biden chegar ao eleitor refratário a fatos.

O encontro desta quinta tem uma triste importância por reunir os dois candidatos mais velhos da história. Biden, 81, e Trump, 78, sabem que sua tarefa, mais do que discutir tarifas de comércio, é mostrar que conseguem ficar em pé durante 90 minutos, sem consultar notas ou recorrer a assessores nos intervalos, sem gaguejar ou cometer lapsos de memória.

Quando um autor de discursos políticos cunhou uma expressão crítica do racismo paternalista –”a intolerância suave das baixas expectativas”– não imaginava que ela seria aplicada ao etarismo.


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