Argentina: Negacionismo de Milei agrava mudança climática – 30/03/2024 – Sylvia Colombo – EERBONUS
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Argentina: Negacionismo de Milei agrava mudança climática – 30/03/2024 – Sylvia Colombo

É muito comum escutar de argentinos com mais de 60 anos que o país, nos dias de hoje, praticamente nem tem mais inverno. “Antigamente era que fazia frio”, dizem. E que, em Buenos Aires, eles costumavam sair para ir à escola cedinho, e era muito comum estar geando, que as roupas tinham que ser muito mais pesadas, e que quase ninguém conseguia entrar no mar, mesmo no verão.

As imagens de Mar del Plata e de outras cidades litorâneas neste feriado mostram outro cenário. Congestionamento nas estradas, banhistas se jogando no mar, mesmo o verão já tendo terminado.

Os números refletem essa situação. A Argentina está sendo impactada pela mudança climática de modo muito evidente já há alguns anos. E as altas temperaturas fora de época são um dos exemplos disso.

No ano passado, o país teve a maior quantidade de ondas de calor desde que o Serviço Meteorológico Nacional passou a contabilizá-las, em 1961. As perdas mais evidentes foram nas principais colheitas de exportação, principalmente de soja e trigo.

Neste anos, registraram-se temperaturas recorde em várias províncias, como Córdoba (46°C), Buenos Aires (44°C) e até mesmo na Patagônia, onde o principal rio alimentado pela neve dos Andes, o Colorado, diminuiu 60% em volume de água nos últimos 12 anos.

As altas temperaturas estão secando a cordilheira. Em vez de nevar como no passado, hoje se tornaram recorrentes as chuvas intensas. E isso acarreta muitos problemas.

“A questão não é apenas a ausência de neve, mas a abundância de chuvas, porque a neve que derrete no verão costumava alimentar os territórios agrícolas em várias províncias, porque seu fluxo é mais lento, sendo essencial para as plantações”, diz Miguel di Ferdinando, professor no Instituto Nacional do Rio Colorado, localizado na província de Río Negro. “Quando a precipitação é repentina, há inundações e outras tragédias que causam o contrário, a destruição de colheitas. Não me estranha que comecemos a ter migrantes climáticos no país, mais cedo ou mais tarde.”

Enquanto isso, na capital do país, tempestades e dilúvios causaram quedas de energia generalizada, deixando vários bairros sem luz.

A mais severa consequência da mudança climática na Argentina, porém, tem sido a dengue. As altas temperaturas causam a proliferação do mosquito transmissor e fazem com que essa doença que não era tão comum no passado, diferentemente de em outros países da região, como o Paraguai e o Brasil, agora esteja atingindo muito mais gente. Não só está havendo recordes de infectados e mortos; anuncia-se que a dengue “veio para ficar”.

“A tendência que se vê é que haverá casos de dengue durante todo o ano”, afirma o pesquisador Adrián Díaz, do Conicet (Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas). “Há tempos que deixou de ser uma doença de estação e de lugares específicos. O aquecimento global está tornando a Argentina mais vulnerável e fazendo com que a doença se mantenha durante todas as estações do ano.”

Segundo o Ministério da Saúde argentino, já foram infectadas 150 mil pessoas, causando 106 mortes. Nas conversas entre amigos o assunto é tema constante: todo mundo conhece alguém que já teve dengue, e hospitais andam com os prontos-socorros lotados e repelentes faltam no mercado.

Justo quando a Argentina mais precisava de um governo dedicado a fazer frente a essas transformações, o presidente Javier Milei é um negacionista do aquecimento global, fechou o Ministério do Meio Ambiente e afirmou que o país não irá implementar um programa de vacinação contra a dengue por enquanto.

Nada mais equivocado.


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