Casal LGBT+ supera estigma e oposição entre China e Taiwan – 13/01/2024 – Mundo – EERBONUS
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Casal LGBT+ supera estigma e oposição entre China e Taiwan – 13/01/2024 – Mundo

Em muitos aspectos, Willy e Louis são um casal millennial típico: conheceram-se por meio de um aplicativo de relacionamento, preocupam-se com o trabalho, adoram música pop e tentam viajar ou ver amigos no fim de semana.

Mas o que este casal tem de singular é que Willy, originário de Taiwan, e Louis, da China, vivem uma história de amor que transcende as tensões entre os seus respectivos países.

Taiwan começou neste sábado (13) suas eleições presidenciais, acompanhadas de perto por Washington e Pequim, e que moldará o futuro das relações com uma China cada vez mais beligerante em relação à ilha que considera uma província rebelde.

Em sua casa, na cidade de Shenzhen, um importante centro econômico no sul da China, Louis define de forma sucinta o seu desejo para esta eleição: “Paz”.

“Como pessoas normais, só queremos ter uma vida boa”, diz o homem de 37 anos. “Só desejamos que as nossas vidas sejam convenientes, desejamos que as relações de ambos os lados do estreito [de Taiwan] possam melhorar, independentemente de quem for eleito”, diz ele.

Willy, 40, e Louis se conheceram há cerca de nove anos em Vancouver, no Canadá. O pedido de casamento foi em Xangai e eles e o matrimônio ocorreu no Canadá, em 2022, antes de se mudarem para Shenzhen no ano passado.

Além das tensões geopolíticas envolvendo Taiwan e China, o primeiro obstáculo para o casal foi a desaprovação de suas famílias sobre sua sexualidade. “Demorou dois ou três anos para que meus pais aceitassem a verdade”, diz Willy.

Louis, por outro lado, nunca pensou em assumir a sua homossexualidade quando morava na China. Quando os pais os visitaram no Canadá, porém, começaram a ser mais compreensivos. “Expliquei a eles que todos esses estigmas sobre a homossexualidade estavam errados. No fim, eles pararam de se preocupar.”

Taiwan e a China seguiram caminhos diferentes no que diz respeito aos direitos LGBTQIA+. As autoridades chinesas descriminalizaram a homossexualidade em 1997, mas os casamentos homoafetivos não são legalizados e o estigma social ainda é generalizado. Após um período de flexibilidade nos anos 2000 e 2010, grupos de direitos humanos relatam que nos últimos anos houve repressão a espaços LGBT+.

Por outro lado, Taiwan está na vanguarda do movimento na Ásia e tornou-se o primeiro território do continente a legalizar o casamento homoafetivo, em 2019. Inicialmente, os casais do mesmo sexo não podiam casar se os seus países de origem não o permitissem. A lei foi posteriormente revisada para remover esta restrição, exceto para pessoas da China.

Mesmo assim, Willy e Louis conseguiram seguir adiante como um casal em Shenzhen. “Ambos sentimos que, pelo menos por agora, a nossa identidade não nos causa muitos problemas, nem nos atrapalha. Na China, fizemos alguns amigos de confiança e eles tornaram-se bons amigos”, explica Louis.

Para ele, que da China, Taiwan lembra o título de uma música: “The Most Familiar Stranger” (O desconhecido mais familiar). “Quando vou para lá, as palavras que vejo, a língua que ouço e a comida que como são muito semelhantes às da China, sinto-me muito familiarizado.”

As questões de identidade são centrais nas eleições desta semana na ilha, onde muitos eleitores se consideram cada vez mais taiwaneses e menos chineses, de acordo com as pesquisas de opinião.

Olhando para as eleições, os desejos de ambos são simples: mais tolerância e compreensão. “Nosso maior desejo é a paz”, diz Louis. “A China deveria ouvir o que as pessoas comuns de Taiwan pensam”, acrescenta Willy. “E Taiwan deveria entender melhor como é realmente a China.”

Ambos também querem mais oportunidades de viagens entre os dois territórios, em grande parte paralisadas desde que as relações entre Pequim e Taipé caíram para o pior nível em décadas.

Longe da crescente pressão militar de Pequim sobre a ilha e do aumento das compras de armas americanas por Taiwan, o relacionamento de Willy e Louis exala harmonia. “Nunca tivemos uma grande briga em quase nove anos”, contam.

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