Cerca de 96% da população da Faixa de Gaza enfrenta insegurança alimentar aguda em nível de crise ou acima. Pela Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar, IPC, esse total corresponde a 2,15 milhões de pessoas.
A mais recente avaliação de segurança alimentar, apresentada nesta terça-feira, usa padrões científicos e envolve mais de 20 entidades parceiras. Entre elas estão governos, agências da ONU e ONGs.
500 mil pessoas em condições catastróficas
A nova publicação revela haver quase meio milhão de pessoas em condições catastróficas, o nível mais crítico da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar.
De acordo com o Programa Alimentos, PMA, a situação em Gaza confirma as preocupações da agência sobre os níveis atuais de fome severa na Faixa de Gaza e mostra a extrema importância do acesso sustentado a todas as áreas da região.
Ligeira melhora em comparação a março
O relatório prevê um quadro sombrio da fome, apesar de indicar uma ligeira melhora em comparação com a avaliação publicada em março, que alertava sobre potencial fome nas províncias do norte de Gaza até o final de maio.
Para o PMA, esta evolução mostra a diferença que se pode fazer com mais acesso. Mais entregas de alimentos e os serviços de nutrição para o norte ajudaram a reduzir os piores níveis de fome, mesmo que a situação ainda seja de desespero.
A agência das Nações Unidas alertou para a persistência de um alto risco de fome com a continuação do conflito e houver restrições no acesso humanitário.
Em Genebra, a funcionária humanitária Yasmina Guerda disse a jornalistas que a entrega ajuda se tornou um “indignante quebra-cabeça diário” numa realidade onde crianças desnutridas não têm a ajuda essencial de que precisam.
Ordens de evacuação
Após realizar sua segunda intervenção em Gaza, a trabalhadora do Escritório da ONU para Assistência Humanitária, Ocha, contou que no terreno não há local com segurança ou onde passar a noite com certeza de que não haverá um novo ataque.
Ela contou que as necessidades básicas são maiores do que nunca, após quase nove meses de intenso bombardeio israelense e operações terrestres na sequência de ataques terroristas liderados pelo Hamas e a tomada de reféns em 7 de outubro.
Os moradores de Gaza são obrigados a fugir de suas casas a qualquer momento, obedecendo as repetidas ordens de evacuação emitidas pelo exército israelense.
Guerda disse que as pessoas são dadas entre 10 e 15 minutos para sair do seu prédio, porque ele vai ser bombardeado. Nesses momentos “seus filhos estão dormindo no quarto ao lado”.
Tomar decisões em frações de segundo
Ela destacou ainda que é necessário tomar decisões em frações de segundo sobre o que levar de essencial, entre certidões de nascimento, documentos de identidade ou fórmula para bebês. Guerda disse que essa narrativa é comum entre pessoas fugidas da Cidade de Gaza, Jabalia, Khan Younis, Deir Al-Balah e agora de Rafah.
O PMA sugere como medida para contornar a atual situação e evitar a fome, que seja entregue ajuda humanitária em níveis certos e sustentados, além de permitir maior disponibilidade de alimentos frescos e melhor diversidade nutricional.
A agência lista outros recursos essenciais como água limpa e saneamento, acesso a cuidados de saúde e reconstrução de clínicas e hospitais e pede urgência na resposta ampla e envolvendo diferentes setores.
O PMA também revela profunda preocupação com a capacidade muito reduzida das organizações humanitárias de fornecer assistência essencial no sul esteja colocando em risco o progresso feito.
Em Rafah, os confrontos de maio deslocaram mais de 1 milhão de pessoas e limitaram o acesso de ajuda. O vazio de segurança provocou a ilegalidade e a desordem que dificultam de forma severa a ação humanitária.
O receio da agência da ONU é que, em breve, o sul de Gaza observe os mesmos níveis catastróficos de fome registrados anteriormente em áreas do norte.