Perplexos com o atual aquecimento global, que tem imposto ao mundo uma série de impactos significativos, é difícil acreditar que, há pouco mais de 200 anos, outro evento climático, porém com quedas de temperatura ente 14 °C e 17 °C, transformou 1816 no “ano sem verão”. O fenômeno atingiu principalmente o hemisfério norte, uma vez que essa anomalia ocorreu entre os meses de junho e agosto.
Em países como os EUA, onde divisão entre as estações é muito nítida, a população se surpreendeu ao ver que o clima extremamente frio atravessou a primavera, com geadas persistentes em estados do leste, e se manteve gelado nos meses em que o Sol deveria estar aquecendo o país.
Do outro lado do Atlântico, a coisa não foi diferente, com chuvas torrenciais inundando a Irlanda durante oito semanas seguidas. Na Grã-Bretanha, as tempestades com chuvas geladas também mantiveram a população fechada dentro de suas casas. Já na Ásia, as tradicionais monções atrasaram, houve seca e quedas de temperatura inéditas.
Quais as consequências das mudanças climáticas de 1816?
A perda da safra de 1816 levou a uma disparada de preços dos alimentos e à fome.Fonte: New England Historical Society
A queda anormal na temperatura global teve uma repercussão imediata na agricultura. Afetadas pelas geadas de primavera e chuvas incessantes, as plantações foram severamente castigadas, resultando em perda quase total da safra.
A escassez de alimentos provocou uma crise alimentar sem precedentes, com disparada nos preços, e ocorrência de fome e desnutrição em diversas regiões. Assustados, muitos agricultores norte-americanos migraram em massa, do leste para o centro-oeste dos EUA, onde permanecem até hoje.
Logo, os efeitos da crise agrícola chegaram a outros setores da economia. Não demorou para que a escassez e a disparada de preços dos alimentos impactassem diretamente o comércio e, consequentemente, a indústria. Rapidamente, a pobreza e a miséria se espalharam pelo mundo, gerando tumultos, instabilidade social e revoltas populares.
O que pode ter causado o ano sem verão?
A megaerupção do vulcão do Monte Tambora foi apontada como a causa da ausência do verão em 1816.Fonte: Getty Images
As causas das mudanças climáticas no ano ficado conhecido como “mil oitocentos e congelados até a morte” não foram imediatamente identificadas. A questão só foi abordada cientificamente, em 1901, quando dois pesquisadores suíços sugeriram que a poeira levantada por erupções vulcânicas poderia ter causado eras glaciais, ao bloquear os raios solares.
Embora tais teorias não tivessem ainda evidências físicas para apoiá-las, alguns estudos começaram a atribuir a causa do “ano sem verão” de 1816 à explosiva erupção vulcânica do Monte Tambora, na Indonésia, ocorrida no dia 5 de abril de 1815, que atingiu um nível 7 no Índice de Explosividade Vulcânica (onde a maior erupção vulcânica já registrada chegou a 8).
A descoberta definitiva da causa do ano sem verão de 1816
Padrões espaciais observados e simulados para o verão de 1816.Fonte: Andrew P Schurer et al.
Foi somente em 2019 que o geocientista Andrew Schurer e seus colegas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, usaram modelos computacionais de clima para simular como teriam sido as temperaturas em 1816 se o vulcão não tivesse explodido.
Em um release, Schurer explica que “a erupção injetou uma enorme quantidade de dióxido de enxofre (SO2) na estratosfera, que teria se espalhado rapidamente pelo mundo, oxidando para formar aerossóis de sulfato”.
Segundo o estudo, o efeito imediato desses aerossóis é uma redução na radiação líquida de ondas curtas (diferença entre a radiação solar incidente e a refletida). A consequência disso é um resfriamento generalizado e duradouros da superfície terrestre.
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